Yuuki e Kazuto #18


Era cedo quando Kazuto adentrou o quarto do outro novamente e apenas queria ficar um pequeno tempo que seja observando-o, já que ao acordar não conseguiu conter a vontade enorme de vê-lo. Deitou-se com cuidado ao lado dele na cama e uma das mãos foi até os cabelos do vampiro, acariciando-o levemente, observando-o com um pequeno sorriso nos lábios.

As pálpebras do vampiro levemente se descerraram, e os olhos claros passaram a fitar o rapaz deitado ao lado. E é claro, já havia acordado no momento em que sentira o aroma exalado dos poros do vampiro menor.
- Quer morrer?
A voz rouca e apática, soou baixa, porém suficientemente audível. Kazuto r
iu e retirou a mão dos cabelos dele.
- Bom dia, Yuuki.

- Bom dia o caralho...
- O que foi, hum?
- Você é irritante.
- Obrigado. E você é lindo dormindo.
- Ah, cala boca e vai embora, vai.
- Não quero.
Yuuki suspirou e cerrou as pálpebras, desenhou nos lábios um pequeno sorriso conforme abria os olhos e fitava o garoto. Uma das mãos fora a face alheia e tocou-a com a ponta dos dedos, descendo da altura dos olhos até chegar ao pescoço, e o tocou com a mão, passando a apertá-lo aos poucos.
- Por que você é tão chato, ahn?

O menor fechou os olhos, sentindo os toques dele e voltou a abri-los, fitando-lhe a face e uma das mãos foi a mão dele no pescoço, a outra segurou a outra mão do maior, entrelaçando os dedos aos dele e fitando os olhos dourados do vampiro.
- Hum? Não ouvi a resposta, tente novamente!
O maior apertou ainda mais o pescoço alheio, sentindo os dedos do outro a tocar a própria mão e entrelaçar os dedos aos próprios, e esta, igualada ao pescoço, passou a ser apertada entre os dedos. 
Kazuto estreitou os olhos, puxando a mão dele do pescoço, sem sucesso ao tentar se soltar.
- Porque... Porque eu te amo e só quero ficar junto com você... Não é... Ser chato... Ah... Solta.
- Ah, que adorável. Crianças...
Yuuki riu. As unhas foram pressionadas a pele do louro, na região da nuca e continuava a apertá-lo no pescoço, no entanto, sem aumentar ou diminuir a intensidade do aperto.
- E por quê? Você é por acaso um masoquista? Você sabe o que eu sinto por você? Hum.

O menor desviou o olhar para o colchão e gemeu ao sentir as unhas afiadas do outro.
- Eu... Eu sei que me odeia...

- Oh não! Eu não o odeio, criança. Eu tenho mais o que fazer. - Sorriu do modo típico. - Aliás, amor ou ódio, são sentimentos que eu desconheço.
Kazuto acariciou levemente a mão do outro com o polegar.
- Yuuki... Está me machucando...

- Eu sei disso. - Riu baixinho.
- Pare, por favor... - Murmurou.
- Não, eu não tenho pena também. Pense em mim como um robô, Cinderella. - O maior apertou-o ainda mais entre os dedos, até que ouvisse a tosse dificultada e o soltou em seguida.- Você está bem, meu filho?
Riu baixo novamente, e voltou a acariciar a face alheia, assim como havia feito anteriormente. O menor t
ossiu e respirou fundo logo após, tentando recuperar a respiração tipicamente humana e não necessária.
- Yuuki...
Levou a mão dele até o peito, deixando-a sobre o local onde o coração estava, aproximou-se do maior e a face repousou em seu tórax.
- Não acredito que seja um robô...

O maior suspirou. Levou o antebraço sobre a face, tapando as orbes, as pálpebras cerradas e tornou a suspirar.
- Cansei de você, moleque. Que seja, eu não posso matar você mesmo, inútil.

Kazuto suspirou e acariciou novamente a mão do maior.
- Eu não faço mal pra você, Yuuki... Porque é tão mau comigo?

- Por que eu simplesmente não preciso de ninguém perto de mim.
- Mas eu... - Apertou a mão dele contra o peito. - Poderia mesmo me dar uma chance não é?- Poderia, mas é algo desnecessário, não vai adiantar em nada.
- Como sabe, hum?
- Somente sei. Não queira debater comigo, pivete.
- Não pode saber se não tentar...
- Eu não quero tentar. Eu não preciso disso.
- Mas Yuuki... Eu estou aqui só por você, eu preciso de você...
- Não me importo com o que você precisa. E por que acha que precisa de mim? É um bastardo que se apegou com o primeiro que te comeu.
- Pare de falar isso. E eu fui atras de você, fiquei naquele mesmo lugar bem antes de você me comer, você só diz a desculpa mais conveniente para você mesmo. Porque não aceita isso logo, hum?
- Aceitar o que? Aceitar que há um pirralho que insiste em uma coisa chamada... Amor? -Riu.
- Não é porque você não acredita que ninguém mais possa acreditar. Ou sentir...
- Eu não disse que não poderia sentir, criança. Sinta o que quiser, só não coloque a culpa no que for mais... Como você mesmo disse, conveniente.
- Está sendo um idiota. - Murmurou.
- Que criancinha atrevida. Idiota pelo que, ahn? Por estar melhor comigo mesmo?
- Não, você apenas fala como se eu realmente não gostasse de você. Eu não gosto disso. Pense... Qualquer outra pessoa poderia me comer, Yuuki... Mas eu não quero outra pessoa.
- Eu não disse que você não sente, criança. Mas estou cansado de lhe dar explicações que não devo. Já sou amável o bastante com você e nem deveria. Foda-se, me ame, me idolatre, faça o que quiser.
O menor o abraçou, fechando os olhos e a face ainda repousando sobre o peito dele, ouvindo as batidas fracas do coração do vampiro.
- Obrigado...

- Tsc...
- Desculpe por te incomodar tanto... - Riu.
- Não ria, isso me irrita.
- Hai.
Kazuto suspirou e permaneceu em silêncio. 
Estava quase pegando no sono e logo abriu os olhos, voltando a fazer uma leve caricia na mão dele que segurava.
- Yuuki... Um dia... Você vai me amar...? - Murmurou.

Yuuki estava prestes a adormecer igualmente quando passou a sentir novamente a carícia e conjunto a mesma, ouvira a voz do mais novo, somente riu entre os lábios cerrados.
- Acho que... Isso é um não...
- Ainda me surpreendo com sua pergunta. - Falou em tom baixo.
- A esperança é a ultima que morre...
O menor beijou o tórax do outro e voltou a repousar sobre o mesmo.

- Eu não vou amar você, ainda mais agora, que é como um filho subordinado.
- Tá bem, papai. - Riu.
- Não me chame de pai, não quero criar laço algum com você.
- Ah Yuuki, não fale assim...
- É, que seja, sou seu pai, e então te amo como filho e não te amarei como companheiro. - Esboçou um sorrisinho maldoso nos lábios.

- Mas porque...? - O fitou.
- Somos vampiros, mas não somos animais que comem até as mães.
- Mas eu... Yuuki...
- Não foi minha intenção virar vampiro.
- Não precisa chorar, pirralho, estou te enchendo o saco.
- Que bom...
- Mesmo assim, não vou amar você.
- Um dia, vai.
- Hum... Não se decepcione.
- Um dia vai me amar, hum, Eu sei que vai. Tanto quanto eu amo você.

- Você é ridículo.
- Não sou ridículo. - Riu.
- É ridículo. Eu não vou amar você. Posso passar um eternidade ao seu lado e eu sei que não vou te dizer que eu o amo. A não ser que seja proposital.
Uma das mãos do maior fora ao queixo do menor e puxou-o de modo atipicamente delicado para que talvez sua face estivesse diante dos olhos e encarou os alheios com os próprios.
- Eu te amo, Kazuto.
A voz soara sussurrada, porém nítida no tom típico. Soltou-o do toque simples da mão em seguida e tornou a pousar a cabeça sob o travesseiro.
- Palavras...

Kazuto desviou os olhos dos dele ao ouvi-lo dizer e sentou-se na cama, a cabeça baixa e as lágrimas escorrendo pelo rosto.
- Ah, o que foi agora? Magoei você, donzela?
- Como sempre... - Uma das mãos do pequeno ele guiou ao rosto, limpando as lágrimas.
- Oh, sinto muito. - Ironizou. -  Por que diz amar quem faz isso com você, uh?
- Você é um idiota! E eu não sei porque eu amo você, mas eu amo. Dói... Mas eu preciso de você, eu preciso dos seus olhos, eu preciso do seu sorriso, mas você me trata como se fosse lixo... Por que, Yuuki? O que eu fiz pra você?
- Lixo? Hum, compreendo. E por que eu deveria lhe tratar melhor que isso?

- Yuuki... Eu não sei! Eu não sei... Você é tudo pra mim... Queria que pudesse entender isso.
- Tudo? - O vampiro riu, um riso que passara a ser mais audível aos poucos e logo cessado, sem deixar morrer aquele ar risonho na face, ou talvez debochado. - ...Você não sabe o que diz. Mas e o que você quer que eu faça, ahn?
- Não sei... Eu não sei o que dizer pra você... Eu não sei mais o que fazer... - O menor soluçou, as lágrimas novamente escorrendo pelo rosto. - Eu quero que você me ame...
- Deste modo, parece mesmo uma criança.
Yuuki se sentou na cama e após alguns segundos se levantou. Caminhou até o barzinho do quarto e saceou pouco da sede com alguns goles de água e não sangue desta vez. Fora a cozinha e deixou o garoto no quarto, ah... Idiota! pensou, afinal não conseguia entender o motivo de todo aquele choro sentido ou talvez das palavras sentimentais do mais novo, apenas o achava criança demais para tudo aquilo. Com a xícara de chá voltou ao quarto e noutra das mãos, levou a bebida ao garoto, e é claro, sem perder o deboche, lhe entregando a xícara com leite quente e riu, desenhando nos lábios aquele sorrisinho maldoso e cínico. O menor o fitou.

- Eu tenho uma vontade de te bater... Tão grande. Mas eu não vou fazer isso, eu vou mesmo apanhar se fizer.
Ele pegou a xícara e levou ao nariz, sentindo o cheiro do leite e apertou a porcelana entre os dedos, quebrando-a com tamanha força e derramou o liquido no chão.
Yuuki se virou ao ouvir o leve barulho da porcelana se trincar e virar cacos entre os dedos do garoto. Caminhou próximo a cama, havia tomado ligeira distância a pouco e apoiou um dos pés sobre a mesma, inclinando levemente o corpo e apoiou o cotovelo sobre a coxa, enquanto observava o menor.
- Hum... Por que não começa a usar a língua pra limpar, ahn?

Kazuto estreitou os olhos para o outro.
- Não quero! - Aumentou o tom de voz e fitou o leite no chão, irritado.

- Chega, pivete! Fala baixo comigo, entendeu? Não acha que estou sendo tolerante o bastante? É assim que quer conquistar alguém, seu mimado! E depois ainda diz que está apaixonado, sai das fraldas primeiro, seu porra! Tsc.
A esta hora, certamente os olhos dourados deram ênfase ao fim da paciência, ao pigmentar pequenas gotículas do rubro nas íris claríssimas.
- Chame a empregada pra que limpe isso, vai!

O menor se levantou rapidamente.
- Desculpe...
Fez um pequena reverencia e saiu do quarto, chamando a moça da cozinha e avisando que havia quebrado a xícara no quarto. Caminhou de volta e sentou-se ao lado dele, uma das mãos foi ao rosto dele, fazendo uma leve caricia e viu a face dele ficar rubra devido ao próprio sangue que escorria já que havia cortado a mão com os cacos.
- Desculpe.
Foi até o banheiro e limpou a mão com a água, pressionando a marca na mão para que parasse de sangrar e voltou ao quarto, sentando-se em sua cama novamente, não sabia como se sentir ou se portar diante dele, podia parecer de fato uma criança confusa, mas talvez estivesse apenas enlouquecendo em querer algo que não poderia ter.
- Me perdoe... 
- Que porra você tem na cabeça, moleque?
Disse o maior, por vez mais ameno que o tom anterior. A empregada já terminava de tirar os estilhaços do copo e sair do quarto, voltando logo para limpar o chão perfeitamente.

- Fiquei irritado, só isso...
- Irritado com o que? 
Estou cansado de tudo isso. Você é só uma criança mesmo. Irritado por um copo de leite. Quer o que? Que eu te trate como adulto? Então se porte como tal!
- Estou tentando... - Suspirou.
Yuuki pousou a xícara que tinha nas mãos, sobre o pequeno balcão do barzinho no quarto e voltou para a cama assim que a empregada deixara o quarto.
- Vá embora.

- Não... Me... Me deixe ficar hoje...
- Como quiser. Não me encha o saco.
- Yuuki, me perdoe pelo que eu disse... Eu só queria que entendesse e não me fizesse as mesmas perguntas. Eu quero sempre estar com você. Eu não quero perder seus olhos, seus lábios... Mas eu não sou uma criança, não gosto quando me trata assim... Eu sei que você diz que não sente nada... Mas quando eu estou longe de você, cada suspiro parece vazio, cada batida que escutava do meu coração... Eu preferia que nem batesse algumas vezes. E bem... Você não escuta o que eu digo, isso me desespera, mas só posso esperar que chegue o dia seguinte para eu poder ver seu rosto de novo e escutar você me xingar e ser indiferente. Isso dói... Mas é melhor do que... Não ter você comigo... Eu não vou incomodar você, só me deixe ficar, quero dormir com você...
- Eu já disse que pode ficar.
O menor sorriu e observou a mão e o sangue que escorria pelos dedos, suspirou e pressionou pouco mais o corte, gemendo baixo. Caminhou até a cama e deitou-se, observando o outro, e nada diria a mais, não o incomodaria.
Yuuki deitou-se de barriga para cima, colocando um dos braços atrás da nuca dando apoio. Cerrou as pálpebras e respirava normalmente, no entanto aspirava o aroma do sangue alheio que escorria entre os dedos do garoto. Levou uma das mãos até a mão do menor e levou-a aos lábios, deixando que a língua limpasse os rastros do liquido vermelho, pressionando a língua sobre a pequena fenda que expelia o sangue e sugou o local brevemente, fez o mesmo com cada um dos dedos sujos e soltou após estancar o sangue.
O menor observou o outro a limpar aos dedos com um sorriso nos lábios e assim que o soltou, a mão foi a face dele, limpando o sangue que havia pela mesma quando foi acariciá-lo e deslizou pelo tórax do maior, acariciando-o para logo retirar a mão do local e colocar sobre o próprio peito junto a outra, observando o rosto dele em silêncio e o deixou dormir.

Compartilhe:

DEIXE UM COMENTÁRIO

    Blogger Comment

0 comentários:

Postar um comentário