Kyo e Shinya #6


Ao chegar em casa, como sempre, ficou três minutos inteiros procurando a chave dentro da bolsa, não sabia nem porque carregava aquela maldita bolsa bagunçada pra cima e para baixo, não usava quase nada que havia dentro dela. Subiu as escadas para o quarto e jogou sobre a cama a mala de viagem já aberta, escolhendo visualmente as roupas menos escandalosas para usar no passeio, o problema era achar entre tantos figurinos alguma coisa que pudesse usar e que não fosse a camisa branca e calça preta de praxe, tinha umas trinta peças de cada, parecia que usava a mesma roupa todos os dias, e isso não havia incomodado a si até então, mas teria que ir assim mesmo, lá talvez comprasse algumas roupas, talvez outra calça preta. 

Com as malas prontas, ligou para o aeroporto para reservar a passagem, uma das dádivas de ser famoso, era só ligar e tudo que queria estava nas mãos. Gostaria de ter alguém que ajudasse a si com as malas, mas como não tinha, teve que carregar tudo sozinho, e parecia realmente uma mulher até nisso, uma mala enorme para passar somente o fim de semana. Teve que lutar contra si mesmo fazendo a maquiagem para cobrir os olhos e boca machucados, talvez os pais não percebessem, mas se notassem teria que usar uma desculpa melhor se não quisesse que eles viessem consigo no avião ameaçando dar alguns puxões de orelha no amigo da banda, e nossa, como ele teria medo disso, até riu ao imaginar a cena.
Ao chegar no aeroporto, desligou o rádio que tocava calmamente uma música de uma outra banda da gravadora que também era fã, meio diferente do próprio som, mais animado, e com a ajuda de um dos rapazes no aeroporto, retirou as malas do carro, hum, talvez devesse contratá-los por tempo integral. O celular vibrou no bolso da calça e obviamente pensou ser a própria mãe, sempre tão calma e preocupada com a própria viagem, então deixou tocar até cessar, ligaria para ela quando estivesse em frente ao portão, porém ao invés do barulho cessar, novamente tocou a música alta o que trouxe alguns olhares incomodados e forçou a si a atender.
- Mãe, eu iria ligar de volta...
- Mãe? Não sou sua mãe, olhe antes de atender o telefone, caralho.
Shinya estreitou os olhos e cessou a caminhada, deixando a mala no chão.
- O que você quer, Die?
- Você ainda vai viajar?
- Sim, ora, eu disse que ia.
- Certo... Achei que estava indo para a casa do Kyo.
- Eh? Por que? O que aconteceu?
- Ah, então ninguém te avisou ainda? 
- Avisou do que? Inferno, diga logo.
- Então, como ele não atendeu o telefone, comecei a me preocupar, então liguei para todos os telefones que eu tinha comigo, eu achei que tinham ligado pra você pra avisar, mas pelo jeito, como não atende o telefone, devem ter tentado inutilmente.
- Meu telefone não tocou até agora! Diga logo que merda aconteceu.
- Parece que uns parentes dele... Sofreram um acidente de carro... Nenhum deles sobreviveu, acho que o Kyo não tem mais ninguém.
Shinya congelou por um minuto e observou todo o aeroporto ao redor, que parecia ter parado junto dele, até o som da voz do amigo soou ao fundo, como se um filme passasse na própria cabeça, ah, teria problemas.
- Ele já sabe? Não parecia ligar para parentes... Aliás, ele critica até demais.
- Pelo jeito... Não apareceu no ensaio e ninguém consegue falar com ele, talvez ele ligue.
- Droga... Eu vou até lá. 
E antes que o guitarrista respondesse, finalizou a ligação e guardou o telefone novamente, erguendo a mala pesada, e nem sabia como havia feito aquilo tão rápido, só se viu no carro logo em seguida, dando partida, e havia jogado as passagens no lixo, o que eram alguns ienes, certo?
Shinya dirigiu durante meia hora, o passeio eterno do aeroporto até a casa dele, e nem havia visto a paisagem, ou sentido o vento no rosto, nos cabelos, não importava, só pensava dele, no que estava fazendo, no que havia acontecido e antes que pudesse perceber, estava chorando, pensando na possibilidade dele ter... Não, não podia pensar nisso, não havia feito nenhuma idiotice, com sorte chegaria a tempo. Inferno, por que tinha que decidir viajar logo naquele dia? Tinha outros trezentos dias no ano para decidir fazer isso, mas tinha que sair bem quando devia ter ido vê-lo, ah se algo acontecesse a ele, não iria se perdoar, brigando por um motivo tão estúpido. Tinha que chegar a tempo, precisava, ou tinha medo do que ele poderia fazer estando sozinho.

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