Kaname e Shiori #21


O pequeno pisoteou o quarto em silêncio, seu objetivo era a cama do outro, parecia tão quentinha, tão atraente e estava meio incomodado, precisava ficar perto dele. Ao se deitar, fitou o rosto bonito do médico e piscou algumas vezes, permanecendo a observá-lo enquanto dormia.
Kaname sentiu a presença do pequeno assim que entrou, sabia que ele estava ali, e despertou do sono rapidamente, mas manteve os olhos fechados até que o menor se deitasse, logo após, os abriu, observando-o pertinho. 
Shiori ergueu a face a observá-lo e uniu as sobrancelhas, observando seus olhos abertos que já fitavam a si, despercebido.
- Oi.

- Quer chegar mais perto?
O maior indagou, ao que sutilmente irônico, visto que sua proximidade já era tanta que seus fios negros roçavam as aberturas nasais e causavam cócegas. Não que fosse expostamente irônico ou que estivesse realmente soando grosso ou incomodo. 
Shiori assentiu e riu baixinho, desajeitado, aproximando-se mais do outro e o beijou na face.
- Quer fazer parte do meu corpo agora?
- Eh?
- Mais perto é possível?
- Ah... N-Não está bom?
- Estava quase me perguntando se sentia frio.
- Iie... Eu estava passando mal e não queria dormir sozinho, então vim deitar com você...
- Passando mal com o que?
- Minha barriga...
- O que está sentindo na barriga?
- Estava doendo.
- Doendo onde?
- Aqui...
O menor segurou a mão do outro e guiou a mesma ao próprio ventre.
- Cólica. 
Kaname massageou de leve na pele fria onde tocou.
- Hai... 
- Quer algum remédio?
- Não...
- Quer continuar sentindo dor?
- Não...
- Então.
- Ta bem.
- Talvez chá seja suficiente.
- Eu quero.
O maior ajeitou-se na cama, afastando-se vagarosamente do outro e levantou-se por fim. Trajou a calça de fino tecido ao lado da cama, permitindo-se consequentemente pender de leve nos quadris, expondo à pelve que descia ao caminho da zona escondida pela roupa íntima e afagou os cabelos, já suavemente alinhados outra vez. Caminhou a saída do quarto, seguindo até a cozinha, onde prepararia a bebida ao outro.
Shiori se levantou junto dele, já vestindo as roupas confortáveis para dormir e o seguiu até o local, descendo as escadas.
Kaname mornou a água, apenas suficiente para sentir o calor brando no dedo sem queimá-lo e adicionou a erva de chá, deixando-a tonalizar a água num verde pálido e fraco. Adoçando-o com sutileza. Erguera as vistas a observá-lo já no cômodo e caminhou até si, entregando a xícara com chá.
O pequeno se sentou numa cadeira próxima ao balcão e uniu as sobrancelhas, levando a mão até a barriga a acariciá-la sutilmente. Pegou a xícara e uniu as sobrancelhas a observá-lo.
- Está doendo...
- Beba o chá.
Shiori assentiu e levou a xícara aos lábios, assoprando o líquido para esfriá-lo e experimentou.
- Tome tudo. Quer comer algo diferente? Alguma coisa de humano?
- Quero... Estou faminto.
- Ok.
Kaname caminhou até a geladeira, observando as opções e em frente a ela, ponderou sobre o que fazer.
- Quer que eu cozinhe?
- Não. Só estou pensando no que fazer. O que você gosta de comer?
- Eu quero... Purê.
- E o que mais?
- E... Só.
- Não quer mais nada com o purê? Torradas, nada?
- Torradas?
- Hum.
Kaname assentiu e buscou as batatas na geladeira, levando-as a pia, lavando-as num escorredor. Shiori uniu as sobrancelhas.
- Da pra comer purê com torradas?
- Dá. Por que?
- Nunca comi.
- Sim, eu notei. Vai querer somente o purê?
- Hai.
O maior buscou o necessário, aos poucos preparando o desjejum para dois. Levou ao fogo cozinhando nos últimos passos do preparo do purê. Enquanto já terminava pela segunda vez a xícara com chá.
- Que horas são?
O pequeno murmurou a observar o outro e bebeu mais alguns goles do chá.
- Não sei, veja no relógio na parede. - Indicou a ele.
- Hai. Nossa, são três da tarde.
Kaname o serviu numa pequena tigela de vidro. Levando-a junto a pequena colher de sobremesa até ele, depositando-a acima do balcão. Shiori sorriu a observar a tigela e pegou-a, levando pouco da comida até os lábios.
- Bom?
O maior falou baixo, o suficiente a ser audível e sentou-se igualmente, frente ao outro, no entanto, para si optou pela torrada mencionada, e um tanto a mais de chá, pela terceira vez. O pequeno observou o potinho com a comida e levava grandes quantidades da mesma aos lábios, até que finalmente finalizasse.
- A comida não vai fugir. - Dizia o maior, ainda no início da refeição.
Shiori uniu as sobrancelhas.
- Mas...
- Quer mais?
- Hai.
Kaname se levantou, levando na boca a torrada não mordida e serviu a mesma tigelinha de vidro com o purê, deixando-a outra vez no balcão. O pequeno pegou novamente o potinho e fez o mesmo, levando rápido a colher até a boca.
- Sh... Por que tanta rapidez, Shiori?
- Mas está gostoso...
- E por isso mesmo deve comer devagar.
- Mas estou com fome...
- Mas vai matar a fome se engolir a comida sem sentir o gosto dela?
- Iie...
- Vai engordar assim.
O pequeno assentiu e colocou o potinho sobre a mesa novamente.
- Não quer mais?
- Não.
- Não quer?
- Não.
- Coma.
Shiori assentiu e pegou pouquinho do purê, levando-o aos lábios.
- Eu só disse para que coma devagar, assim sente mais o gosto da comida e se satisfaz.
- Hai.
O pequeno murmurou e apreciou o sabor da comida feita pelo outro, abrindo um pequeno sorriso.
- Está menos dolorido?
- Hai..
- Quer mais chá?
- Iie, quero suco.
- Suco ou sangue?
- Suco com sangue. Eu fiz. - Sorriu.
Kaname buscou um dos copos, servindo-o com o suco que pegou na geladeira. Levou o copo longo até o balcão entregando-o ao outro. O menor sorriu a ele e pegou o copo, levando-o aos lábios a experimentar o suco.
- Oishi.
O maior fez menção de um riso não provido.
- Está elogiando a si mesmo.
- Hai
- Quer algo mais?
- Um beijo.
- Fome de beijo?
Shiori assentiu e riu baixinho.
- Que tipo de beijo?
O menor fez bico. Kaname atravessou o balcão, cruzando-o a direção alheia e lhe selou os lábios num estalo suave.
- Você me ama? - Sorriu.
- Essa frase soa forte.
O menor uniu as sobrancelhas.
- Não consigo dizer tão facilmente, Shiori. Mas eu sinto, sim, por você.
Shiori assentiu e abaixou a cabeça. Kaname o tocou no queixo, erguendo-lhe a face, porém o menor manteve a face abaixada e observou o copo.
- Você me ama, Shiori?
O menor assentiu com a cabeça.
- Então eu também faço assim com a cabeça. - Assentiu. - À sua pergunta.
- Hai.
- Não seja sensível assim. Não neguei ou não aleguei não sentir.
- Hai, não tem problema.
- Certo. Você... Quer alguma coisa?
- Não quero. Você quer mais alguma coisa?
- Não. Eu fiz bolo... Você gosta?
- Eu não sei. Preciso experimentar pra saber se vou gostar ou não.
Shiori assentiu e levantou-se, seguindo em direção a geladeira a abri-la e retirou o bolo, decorado com o glace vermelho junto do sangue. Kaname caminhou, dando a volta no balcão e sentou-se no banco alto e estofado, observando-o pela cozinha junto ao bolo confeitado de vermelho.
O pequeno cortou um pedaço do bolo com a faca e colocou-o no pequeno pratinho, entregando-o a ele. O maior ajeitou-se no assento e afastou-se do balcão. Deu um leve tapa sob a coxa dispondo-a ao moreno.
- Vem.
Shiori assentiu e aproximou-se do maior, sentando-se sobre o colo dele. Kaname aceitou o bolo, levando um pedaço pequenino do bolo a boca, sentindo o gosto rude do sangue, ao que dito, não muito tentador, mas agora sim, apetitoso. Misto ao recheio escolhido pelo outro. Logo, serviu-o igualmente com um pedacinho do bolo. O menor aceitou o bolo e abriu um pequeno sorriso que logo deixou os lábios, desviando o olhar a mesa.
- Oishi?
- Hum. - O maior murmurou afirmativo, ainda degustando o bolo na boca.
- Que bom.
- E você, gostou?
- Hai, ficou bom.
- Uhum. - Kaname ingeriu um gole do chá.
- Temos que voltar pra cama? - Shiori uniu as sobrancelhas.
- Por quê? O que quer fazer?
- Não sei... Acho que podemos ficar deitados um pouco. Mas não pode dormir. - Fez bico.
- Eu vou ter que dar uma saída logo. Enfrentar um pouco desse sol. Tenho um turno da manhã no hospital hoje.
- Mas...
- Hum... Como está manhoso.
- Vai me deixar aqui?
- Eu tenho que trabalhar. Mas vou ficar acordado e na cama, enquanto isso.
- Hai, então vamos deitar.
Kaname degustou mais um pedaço do bolo e abandonou o pratinho sob o balcão, logo, o fizera se levantar consigo conforme o fez. Shiori se levantou e segurou a mão do maior, seguindo junto dele até o quarto. O maior puxou o edredom, deitando embaixo dele o espaço cujo adentrou ao se deitar com o moreno, novamente na própria cama. O outro, ajeitou-se ao lado dele a repousar a face sobre o travesseiro, puxando o edredom sobre si.
- E agora, o que quer acordado?
- Quero conversar. - Riu baixinho e lhe selou os lábios.
- Sobre o que?
- Vai conseguir que eu trabalhe com você?
- Verei isso hoje conforme for lá pela manhã.
- Ta bem. Acha que eu posso começar logo?
- Quem sabe, isso eu tenho que ver com o diretor do hospital.
- Ta bem ne... Eu espero.
- Uhum. Enquanto isso vá pensando sobre o que irá fazer.
- Hai. - Sorriu.
- Uh... - Kaname murmurou com um sorriso sutilmente audível.
- O que foi?
- Nada.
O menor assentiu e segurou a mão do outro a entrelaçar os dedos aos dele.
- Se ficar quieto, acabaremos dormindo novamente.
- Desculpe. - Riu baixinho.
O maior deu um sorrisinho.
- Você é um bom garoto, Shiori. Que bom que entrou pela minha janela.
- Por quê diz isso? - O menor indagou com um sorrisinho.
- Porque sim. Vamos dormir mais um pouco, precisa descansar, você e o bebê.
O pequeno desviou o olhar a ele, meio de canto e abriu um pequeno sorriso nos lábios, de alguma forma ele havia elogiado a si, e estava feliz, havia feito algo certo. 

Compartilhe:

DEIXE UM COMENTÁRIO

    Blogger Comment

0 comentários:

Postar um comentário