Kazuma e Asahi #27


- Vou pedir que façam algo pra você comer.

- Estou bem, obrigado.
- Não vai comer?
- Não.
- Quando foi a última vez que se alimentou?
- Há alguns dias, mas estou tomando soro.
- Não faz diferença. Mas não vou insistir, faça o que quiser.
- Não se preocupe, não importa.
- Você quer que eu me importe e se faço, você não obedece, então não tenho porque me importar. No fim aparentemente você só que saber de amor.
Asahi desviou o olhar a ele ao ouvi-lo e permaneceu em silêncio.
- Algo mais importa na minha vida, Kazuma?

- Me diz você.
- Eu não tenho nada na minha vida, eu não tenho família, eu não tenho mais o meu cargo, eu não tenho mais casa, eu não tenho mais nada, você é a única coisa que eu tenho. Agora me diga, porque eu vou me preocupar em me alimentar, em cuidar de mim se você se quer se importa em vir me ver? E quando vem, só quer me xingar e falar sobre como eu sou irresponsável e que não voltará mais de eu não me cuidar. Você ficou duas semanas sem aparecer, duas semanas, você vem, dorme comigo e vai embora, tenho que implorar pra ter um lugar do seu lado na cama, você não me ama, você gosta do meu corpo, você gosta que eu te dê prazer por meia hora, e depois você volta ao seu mundo normal como se eu não existisse, como se eu não significasse nada pra você. Então por que? Você pode ser uma rocha, mas eu não sou. Eu tenho sentimentos, alguns que eu nunca havia sentido antes, e eles me confundem, mas só me fazem parecer um idiota maior.

Kazuma ouviu tudo o que dizia o rapaz, e sabia qual era sua intenção ao dizê-lo, no entanto, o contrário do que ele queria, fazia-o parecer ainda mais estúpido. Sabia que como ele dizia, era uma rocha, mas podia se permitir a sentir.
- Você quer meu amor, Asahi? Não vou mentir, gosto de te comer, principalmente porque quando te como você não é tão lamentável. Se eu quiser um homem, eu não quero um escravo. Não quero ser o tudo de alguém, quero ser uma parte. Não quero ser a porra do combustível que te faz viver. O que você quer, se você parte por duas semanas, você quer encontrar a pessoa que te esperou com avidez e saudade ou aquele que te espera debilitado porque não consegue viver sem seu "Combustível"? Quer me receber com um sorriso ou um abraço apertado ou a porra de uma doença porque está tão triste já que só tem esse "amor"? Não precisa viver por amor, moleque, você pode viver e ter um maldito amor na sua vida. Não quero uma criança depressiva e fodida por causa de amor, a hora que criar maturidade verá que não estou esperando encontrar alguém sempre feliz, mas também não quero 
alguém que confunde amor com dependência, como motivo de vida. E se eu venho duas semanas depois e quero sexo, é porque é uma das formas mais profundas de estar perto de alguém. Não precisa estar 24 horas do lado de alguém pra poder viver e amar. Agora não espere que um homem na minha idade vai gostar de uma criança que não se dá o trabalho de mostrar algo bom, só quer mostrar o quanto só conhece isso, e o quanto sou tudo o que você tem. Não quero ser algo tão superficial que você tem porque é a única coisa que existe na sua vida, as pessoas querem ser algo que você escolhe dentre tantas outras. Pare com isso, simplesmente pare com essa merda porque é irritante, aprenda que todos tem formas diferentes de querer algo, alguém ou de demonstrar as emoções. Você não é tudo pra mim, não é a única coisa que conheço e não é a única coisa que vai estar na minha vida, mas se dentre tantas outras malditas coisas que estão no meu dia-a-dia e ainda assim eu encontro uma parte desse tempo pra te encontrar, é porque também é importante, ah? Malditas crianças.
Asahi desviou o olhar a ele ao ouvi-lo e numa certa parte, desistiu, ele mesmo dizia a si que pessoas tinham formas diferentes de sentir algo e por fim, cuspia em si que deveria estar sempre animado com tudo que acontecia ao redor, que era na verdade, deprimente. O país estava em guerra, não tinha companhia, não era mais um padre, tudo que conhecia havia morrido, não sentia sensações básicas, sempre fora deprimido, não era mais nada, mas tinha que estar feliz mesmo assim. Assentiu, e se era alguém superficial que ele queria, o seria, de todo modo ele havia dito a si que era importante para ele de alguma forma, embora não como gostaria de ouvir. Por um momento se lembrou de que ele havia dito a si que poderia matar a si se quisesse, e preferia pedir aquilo a ele a ouvir todo aquele discurso. Talvez ele preferisse uma pessoa sempre feliz, afinal, ninguém consegue viver com alguém tão triste.
- Certo, vou estar super feliz na próxima vez que você vier. Me desculpe por ser tão infantil.
- Falei, falei e você não entendeu. Eu vou embora, não vou vir mais te usar como um buraco. Vou fazer como fazíamos, trago o que precisam e você não fica tão ferrado, até porque, seu erro foi o que fizemos, você nasceu pra ser um padre.

- Você que sabe, Kazuma. A culpa é sempre toda minha de todo modo, sou um idiota que não sabe cuidar de mim mesmo. Me deixe "ferrado" no meu mundo como sempre, afinal, fazer parte dele é chato.
- Não costumava ser. Disse o maior e por fim se levantou, não estava com paciência, ele também não e no estado em que estava, não tinha cabeça parar amenizar. O menor estreitou os olhos, embora ainda agarrado ao maldito quepe dele e manteve-se em silêncio por quase um minuto inteiro, por fim virou-se, as lágrimas já a escorrer pela face novamente e observou o quarto, agora vazio. Negativou, encolhendo-se na cama e ponderou por um pequeno tempo, porém levantou-se rapidamente, correndo até a porta, claro, que o soro não seguiu a si e a agulha quase rasgou o braço se não fosse por perceber que havia um fio preso a si e o arrancou, saindo do local e o viu no corredor a seguir para a escada.
- Kazuma!

O moreno deixou seu quarto, queria ir embora e não ter de se preocupar com ele, talvez três dias fossem mais que a cota do que costumava ter de preocupação com algo que não fosse alguém tão específico. No entanto, ao ouvi-lo parou, virou-se a fita-lo de soslaio e notou que havia saído da cama. Ao voltar para ele, pegou no colo e devolveu para a cama.
- Fique aí.

Asahi uniu as sobrancelhas ao vê-lo voltar e claro, achou que ia levar um soco, porém fora pego no colo e encolheu-se, sentindo a cama macia abaixo de si.
- Iie! Não vá embora!

- Não estou com saco, você também não está, não imagino que vá sair algo produtivo daqui.
- Kazuma... Deite comigo.
- Não, vou pedir que a Mika coloque o soro novamente.
- Não... Por favor. - O loiro falou, e sentia as lágrimas que escorriam pela face.
- Tá tá, pare de chorar.
- Pare de chorar. Se não vai comer, vai tomar soro.
Asahi levantou-se novamente, unindo as sobrancelhas devido a posição dele e segurou-o em suas mãos, embora o sentisse resistir a si e tentar se soltar e segurou-o firme no local.
- Kazuma... Kazuma! - Falou, o suficiente pra fazê-lo parar com seus movimentos. - Me fode.
Falou, claro, no calor do momento, porque jamais diria algo assim e sentiu o arrepio percorrer a coluna, não sabia se estava excitado ou se era vergonha.

Kazuma fechou os olhos e puxou a mão, antes que ao invés de puxa-la levasse com um tapa bem dado em sua bunda. No entanto antes que desfizesse o toque o ouviu dizer, de modo incomum, e deveras apelativo. Arqueou a sobrancelha, e o fitou deixando claro que aquilo era bem inesperado.
O menor permaneceu a observá-lo por um outro minuto quase inteiro, esperando alguma reação dele, e a essa altura, já havia parado de chorar, óbvio porque o que disse ia contra tudo o que acreditava, mas já ia provavelmente, queimar no inferno segundo a própria religião mesmo, uma palavra a mais uma a menos...
- Isso é anemia.
Asahi arqueou uma das sobrancelhas a observá-lo e negativou, tão pasmo quanto ele. Aproximou-se quase num pulo e agarrou-o junto a si, empurrando a língua para a boca dele e iniciou um beijo, com tanta vontade quanto havia dito a frase.
O maior teve de levar as mãos habilmente para segura-lo conforme pulou e sentiu a boca umedecer com seu beijo, um pouco amargo, tinha gosto de lágrima e remédio. Mas era firme, mais do que provavelmente já houvera feito outra vez. No entanto, negou e empurrou-o de modo que seu lábio estalou contra o próprio ao ser interrompido.
- Na, não sou tão bonzinho, Asahi. Vai precisar me implorar.

- Não... Kazuma...
O menor murmurou ao senti-lo cessar o beijo e uniu as sobrancelhas, tentando empurrar novamente a língua em seus lábios.

- Eu disse não. - Disse, impassível. - Saia de cima, vai precisar se ajoelhar.

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