Kazuma e Asahi #11


- A-Asahi... Não adianta, ele... Não vai voltar.

- Afaste-se!
O loiro falou a ela e pressionou mais vezes o peito dele, já sentia as lágrimas que escorriam pela face. Ele tinha que acordar, ou não aguentaria a dor, se culparia para sempre.
- Kazuma, por favor... Deus, me ajude... Não sei mais o que fazer...
Murmurou, abaixando a cabeça a repousar sobre o peito dele, já sem esperanças mais de que ele fosse acordar após todas as tentativas que havia feito, após todo o esforço, ele não voltaria, o havia perdido, escapado por entre os dedos, e não podia crer que o havia achado somente para vê-lo morrer nos próprios braços, não queria sair, só queria ficar ali com ele, se possível, ir junto a ele. Não havia mais som, não havia mais ninguém ao redor, fora como se o tempo houvesse parado ali, naquele chão, enquanto sentia seu corpo quente ainda contra o próprio, e se lembrava da primeira vez que o havia visto entrar por aquela porta, achando que seria machucado por ele. Era um idiota, ele era um homem bom demais para existir nesse mundo, e talvez, fosse assim que devesse pensar, era um padre afinal, devia pensar que Deus talvez o quisesse a seu lado, mas se recusava a deixá-lo ir embora, sabendo que era a única pessoa que havia sentido algo na vida. Talvez estivesse ali por culpa própria mesmo, era um pecador, o havia matado e agora a alma dele estava condenada junto a própria, presa para vagar sempre nas trevas como a bíblia sempre ensinou a si. Esperaria um milagre? Como poderia esperar por um após saber que não poderia cometer os terríveis crimes que havia cometido contra o livro sagrado. Como Deus poderia... Ajudar a si? Mesmo assim, fechou os olhos, segurando as lágrimas e rezou, silencioso sobre o corpo dele e quase ninguém podia ver, mas a mão segurou a do moreno ao lado de seu corpo, entrelaçando os dedos aos dele, implorando que ele acordasse, que voltasse para si, porque o amaria, porque cuidaria dele, tinha que fazer.
Num sopro, ouviu um som rasgando o ar. Era a respiração dele, a resposta as preces que havia feito, o coração que pouco a pouco parecia voltar a bater num zumbido e Asahi ergueu a face, desviando o olhar a seu rosto, o rosto tão bonito que adorava ver e deslizou o tecido molhado pelo rosto dele novamente, num sorriso que se abriu nos lábios, pouco a pouco, e que mais parecia ser de orelha a orelha. Estava vivo! Estava respirando!
- Kazuma!

O moreno podia ouvir a voz entristecida que dizia o próprio nome, podia ouvir também quando ela se converteu num sopro de alívio. Conhecia seu timbre, mas não com certeza. Sentiu as gotas frias deslizarem na pele a medida que gentilmente era umedecida com o tecido, embora não soubesse disso, sentia apenas um conforto diante da dor que pontava no ombro.A enfermeira se ajoelhou ao lado do padre, a mais nova, e amiga dele, rasgou a camisa que Kazuma usava ao retirar sua farda e analisou os ferimentos, iniciando a limpeza que certamente, não saberia fazer e foda obrigado a soltar a mão dele.
- ... Leve-o ao meu quarto quando terminar, eu cuidarei dele.

Pouco após, Asahi observou o rapaz colocado na própria cama e agradeceu as enfermeiras, segurando a porta para fechá-la, porém a enfermeira fora mais rápida e indicou a si que se sentasse.
- Eh?

- Padre, está perdendo muito sangue, me deixe retirar a bala e fazer um curativo.
- Não é necessário, preciso cuidar dele.
- Padre, tem que estar bem para cuidar dele...
O loiro desviou o olhar a ela, e a viu engolir em seco ao falar a última palavra, não entendia, mas apenas assentiu, aceitando que ela se preocupava consigo. Abaixou a batina na parte do ombro, observando a garota ali parada e que se abaixou, preocupada com a ferida aberta, mas que somente usou a pinça para mexer na carne e retirar o projétil.
- Não está doendo?
- Não... Estou bem. 
- Teve sorte de atingir um local fácil de tirar e sem hemorragia.
Asahi assentiu e logo sentiu o curativo sobre a área, junto da faixa, cobrindo o buraco da bala e ao fim, agradeceu num maneio de cabeça e se levantou, seguindo em direção ao outro na cama.
- Emi, feche a porta quando sair.
Disse a ela e nem viu sua expressão ao deixar o local. Deslizou uma das mãos pelos cabelos dele, acariciando-o e abaixou-se por um momento, de olhos fechados enquanto rezava todas as palavras novamente e agradecia por ele estar vivo, não sabia se era um milagre de fato, não sabia o que havia acontecido, só sabia que deveria agradecer naquele momento, por qualquer coisa que tivesse ocorrido, talvez a bondade de Deus. Ao término, aprontou a água e o pequeno lenço que deslizou novamente pelo rosto dele, limpando os sinais de poeira. Retirou os restos de sua camisa, tentando não observar seu corpo bonito demais e provocante para si. Tirou sua calça e manteve-o com a roupa íntima, única peça que não estava suja e só então, passou a deslizar o pequeno lenço umedecido pelo corpo dele, no tórax, abdômen e observava cada centímetro de pele que tocava, devia se preocupar consigo de fato, mas ele sentia dor, e devia estar sofrendo certamente. Observou a ferida coberta pelo curativo e suspirou, agradecendo por estar com um anestésico dado pela enfermeira para poder dar alguns pontos sobre o local e esperava que não restasse cicatriz ao fim. Lavou o corpo dele, cuidadoso como sempre, atencioso as partes importantes e se segurava, para não chorar, para não abraçá-lo, para não parecer um louco.  Segurava até mesmo o coração dentro do peito, e estava feliz por ele estar bem. Cobriu-o com o edredom e 
puxou a cadeira lado ao corpo dele, sentando-se ali e segurou a mão dele em meio a própria.
- Você vai ficar bom, Kazuma... Eu juro.

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