Yuuki e Kazuto #15


O relógio marcava três e quatro da manhã, Kazuto estava encostado na parede abaixo ao telhado da casa que morava anteriormente, havia voltado ao mesmo local. Apenas de braços cruzados observando as gotas da chuva que caíam, estava com fome e apenas observava se alguma pessoa passaria pelo local, os olhos se fecharam e suspirou, uma das mãos foi até o pescoço, sobre as cicatrizes feitas anteriormente pelo vampiro, perguntava-se como todos os dias o porque havia saído daquele local. Havia saído da vida dele mas afinal, nunca esteve nela. Abriu os olhos devagar, a imagem de uma pessoa a pouca distancia de si, abriu um pequeno sorriso nos lábios, certamente frio, há dias não sorria do mesmo modo e aproximou-se da imagem do outro, fitando-o de perto. Parou no mesmo local, sequer sentia a chuva molhando as roupas, os cabelos, estava boquiaberto, certamente não esperava vê-lo por ali
- .... Yuu.... Yuuki...?

Do final da escura rua, após a suave curva que fez ao traçar a esquina. Os passos continuaram a guiar Yuuki até o edifício a alguns metros de onde estava. A pele branca era destacada ante dos tecidos negros que cobriam todo o corpo, expondo somente a face e as mãos. Tinha nas pernas a calça justa em couro e no tronco o sobretudo em vinil, impossibilitando as gotas da chuva de molhar o corpo, mas não impedia que as gotículas traiçoeiras invadissem a regata abaixo do traje, afinal, o casaco estava aberto. Os cabelos encharcados caíam sobre a face alva, e os fios medianos da franja, faziam o favor de lhe tapar os olhos dourados, porém negros com a maquiagem borrada. Após alguns passos, fora capaz de avistar a pequeno silhueta, mais alguns passos, capaz e aspirar o aroma que exalava do poros do pequeno ser a alguma pequena distância, e que ia se tornando menor a cada passo. Sem mais, a ouvir a voz conhecida, não audível há alguns dias, ergueu a face e uma das mãos fora até a franja, tirando-a de frente os olhos e ergueu a cabeça, dando ênfase ao ar arrogante que sempre fizera parte de si. As pálpebras não muito abertas, tinha uma leve cerração, mostrando o mínimo dos olhos claros, e nos lábios nasceu um sorriso sutil, que delineou com um dos dedos para tirar o rastro de sangue e assim inserir o mesmo dedo na própria boca, tirando o liquido vermelho do dígito, e em seguida roçar a língua aos lábios, para acabar com os vestígios do deleite feito a alguns minutos atrás. Sem deixar o sorriso morrer, a voz soou baixa, e típica.
- Ora ora... Te conheço, garotinho?

O menor sorriu a ele, o sorriso verdadeiro do pequeno, que saudade sentira dele, até mesmo daquela arrogância, não se importava com ela, não mais.
- É você mesmo... - Aproximou-se para abraçá-lo e lembrou-se de que não deveria tocá-lo. - Yuuki... Pela primeira vez fico feliz em ouvi-lo me chamar de garoto...

- Oh, que adorável. - O tom na qual dissera certamente não soava como elogio. Retomou os passos para caminhar novamente a entrada do edifício, no entanto cessava o caminhar assim que se fez lado a lado ao menor. - O que o trás aqui, Cinderella?
Kazuto abaixou a cabeça.
- Eu voltei a morar na minha antiga casa... Me traz boas lembranças... E... Estava com fome, achei que você fosse... Bem... Desculpe.

- Compreendo. Achou que ?
- Fosse uma outra pessoa qualquer...
- É, - Yuuki pousou uma das mãos sob um dos ombros do rapaz e deu um pequeno aperto. - Certamente não sou uma delas. Tenha uma magnífica noite, querido...
O riso abafado entre os lábios, soou baixo porém suficientemente audível, ante o modo como se referia ao pequeno. Cessou o toque no ombro e retomou os passos até o local onde residia. O menor s
orriu e virou-se, observado-o enquanto caminhava.
- Yuuki!

- Hum...?
O maior disse de modo audível, murmurado entre os lábios, no entanto em tom suficiente para que fosse ouvido por ele, e não cessara os passos.

- Pare, me deixe dizer algo...
O menor esperou que o outro parasse e caminhou na direção dele, os passos calmos até que estivesse em frente ao maior, e estava visivelmente acabado se comparado a ele, sempre bonito, mesmo de maquiagem borrada. Uma das mãos chegou próxima ao peito dele, sem tocá-lo assim como na noite em que ele deixou que sentisse seu coração, aproximou a face da do outro e murmurou próximo a seu ouvido, com cuidado para que não o tocasse.

"O tempo pode passar, mas eu continuarei o mesmo,
as lágrimas vão secar 
e as marcas vão sumir.
O passado vai machucar
e eu desejarei não existir.
Mas quanto mais eu pensar em desaparecer,
mais eu amarei você..."
Algum tempo Yuuki se manteve com a tal proximidade imposta pelo garoto, mesmo após ouvir as palavras ditas, somente depois de um pequeno espaço de tempo, foi em que afastou-se de modo sutil e fitou a face do menor por alguns segundos, apático, até que aos poucos, enquanto os olhos dourados encaravam os alheios, passara a nascer novamente um sorriso nos lábios que tornou audível a risada e logo nítida a gargalhada, afastou-se pouco mais e continuou a rir, e conforme fora cessando o riso, retomou a postura e fitou o recém vampiro.
- Que gracioso, Kazuto. Quer que eu diga algo para você também ? ... - Aproximou-se do outro, assim como este havia feito consigo e murmurou próximo ao ouvido. - ... Da morte veio e nunca se terá um fim, vamos buscar o luto eterno pela nossa pobre alma que vaga dentro deste mórbido corpo, que não mais ama, não mais sente, somente existe e caminhará por esses longos séculos, assim como venho existindo consciente de mim.
Afastou-se, sem romper a proximidade, inclinou o pescoço de modo sutil para o lado e sorriu, expressando na face um atípico sorriso gentil, 
mas é claro, desprovido de tal sentimento verdadeiro. As mãos foram a face do menor e o segurou, os lábios foram bruscamente pressionados contra os dele, e o soltou em seguida.
- Boa noite, criança.
Desvencilhou a mínima curva que havia feito com o torso e sequer havia percebido. As mãos foram aos bolsos frontais da calça e retomou o passo.

Kazuto abaixou a cabeça assim que ouviu a risada do outro e permaneceu do mesmo modo ao ouvir as palavras dele, mas logo os olhos se desviaram ao sorriso do vampiro. Os lábios contra os dele e uma das mãos tocou os mesmos assim que fora solto, deslizando por ali, o sorriso aos poucos surgindo novamente.
- Yuuki...
A voz fraca, praticamente inaudível ao outro que já se afastava de si e correu até ele, pela primeira vez, o tocando, os braços envolveram o corpo dele num abraço, as lágrimas escorreram pelo rosto que passariam imperceptíveis pela chuva que molhava a ambos e os lábios se colaram novamente aos dele, beijando-o, esperando que o outro retribuísse o beijo mas sabia que não seria com tanta vontade como a si, já que sentia uma vontade incontrolável de sentir os lábios dele junto aos próprios, a língua do outro a passar pela própria, até mesmo as presas dele a cortar a pele novamente.

Yuuki sentiu os braços a envolver o corpo, e os próprias pendiam a cada lado, acima dos braços que estavam em torno de si. Sentiu o toque nos lábios e por instantes fitava a face bem próxima, tendo em vista somente as pálpebras alheias. Talvez o garoto houvesse sentido a curva dos lábios, ou capaz de ouvir aquele meio riso, como já havia feito algumas vezes a minutos atrás.
-  ... Ah, crianças...
Murmurou entre os lábios unidos e descerrou minimamente os próprios, num toque quase despercebido, roçou a ponta da língua sobre o lábio inferior do menor. 
O menor riu ao ouvi-lo e mordeu o lábio inferior do maior, cessando o beijo com um pequeno selo.
- Desculpe, não aguentei ficar sem tocá-lo... Yuuki... Não vá embora... Por favor...
A face do menor repousou sobre o peito dele, ouvindo as batidas fracas do coração do vampiro, permanecendo em silêncio, implorando que ele ficasse consigo essa noite, mas sabia que ele não o faria.

- Tsc... - O maior resmungou conjunto ao riso ante o pedido alheio, que soou tão ridículo a si. - Hã, arrume argumentos para que eu seja sua babá esta noite.
Kazuto o fitou e arqueou uma das sobrancelhas.
- Quero que fique porque eu senti sua falta... Quero ficar com você hoje hum... Não interessa o que façamos desde que... Esteja comigo. Por favor... Eu me arrependo muito de ter deixado você, foi a pior coisa que eu fiz na minha vida, a mais difícil... Fique comigo... Eu te imploro...
O abraçou com mais força e voltou a repousar a face sobre o peito dele.

- Ahn! Como gosta de se humilhar. - As mãos do maior foram aos braços do menor e os puxou, tirando-os de torno a cintura. - Posso perder tudo, posso não obter sequer um filete de sentimentos humanos, mas jamais perderei meu orgulho. Mas bem, pivete, faça como quiser.
- Mas eu só quero ficar com você... - Kazuto murmurou e o observou.
- É, realmente, você não muda, criança. - O maior retomou os passos após desviar a direção em que estava o pequeno corpo parado. - Que seja, mas não venha me acordar a noite achando que vou preparar sua mamadeira.
Kazuto sorriu a ele e assentiu, era inocente, mas gostaria de poder dizer a ele o quanto o queria, o quanto queria aquelas presas na própria carne, suas mãos no próprio corpo como se fosse a primeira vez em que o sentiu, o queria, queria tudo nele, até aquele risinho, aquele maldito orgulho, somente para si.

Compartilhe:

DEIXE UM COMENTÁRIO

    Blogger Comment

0 comentários:

Postar um comentário