Kyo e Shinya #3


Naquela mesma noite, Shinya havia parado em frente a casa do amigo e no carro, esperou o longo tempo, ponderando consigo se saía do veículo e tentava bater na porta, ou se voltava para casa e desistia daquela relação problemática que parecia não querer se encaixar de modo algum, e não era nem por si mesmo, mas pelo outro que parecia querer evitá-lo. Do andar de cima, ele tinha a visão do quarto do outro, onde a luz estava acesa, o que significava que ele ainda não havia dormido, talvez estivesse acordado escrevendo alguma coisa, já que a televisão que havia ganhado era usada somente de porta copo para as doses de whisky e café, talvez estivesse somente deitado, observando o teto, como já o havia visto fazer inúmeras vezes na gravadora, parecia não pensar em nada, mas certamente se pudesse ler a mente dele, estaria aos prantos. Mas o vocalista não estava fazendo nenhuma das coisas que o amigo pensou, estava no banho, havia apenas deixado a luz do quarto acesa, e ao sair do banheiro, fora possível ter a visão de seu corpo pela janela, estava enrolado ainda numa toalha de cor creme, os cabelos curtos e loiros molhados pela água do banho e respingando pelo chão, mas era óbvio que esses pequenos detalhes Shinya não conseguiria ver de tão longe, o que importava era um único ponto, o tórax, novamente marcado por feridas que manchavam a toalha de vermelho, e como havia se irritado com aquilo, sentia como se fosse a gota d’água, teria que falar com ele sobre o assunto, independente da contagem de dentes quebrados que causariam em si, e seriam muitos.

Saiu do carro, batendo a porta do veículo, porém parou antes que pudesse adentrar a casa, como se os pés ficassem presos ao chão e a mão nem chegou a tocar a maçaneta da porta. Sentiu os olhos se encherem de lágrimas e no fundo, sabia o porquê de toda aquela repreensão do corpo, tinha medo dele, tinha medo de não poder vê-lo mais, de não poder tocá-lo mais, mesmo num aperto de mão, de não poder mais falar com ele, nem pelo telefone, o amor era uma droga mesmo, impedia a si de dormir sem pensar se ele poderia estar machucado, impedia a si de levantar todos os dias de manhã se não ouvisse a voz dele tocando numa música no despertador do celular, mas também impedia a si de entrar naquela casa e ajudá-lo como queria, abraçá-lo e sentir a pele quente dele aquecer a si. Era um idiota, e pensou nisso o caminho todo que fez de volta para casa, forçando a vista para enxergar a rua em meio às lágrimas que escorriam pelo rosto. 

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