Kaname e Shiori #2


O garoto estava na rua novamente, parado em frente ao prédio dele. Sentia fome novamente, embora já houvessem passado alguns dias da última vez que voltara ali. Desde então, não havia comido. Tentava caçar de algum jeito, mas era pequeno, novo, e sempre fraco, não conseguia. Esperava ficar fraco para sair às ruas e tentar a sorte, ao contrário do que se fato deveria fazer. Os olhos piscaram, meio sonolento, ou talvez, estivesse quase desmaiando.
A janela dele estava fechada, logo, não poderia pular ou chamá-lo, e com as luzes apagadas, ou estava dormindo, ou não estava em casa. E mesmo que estivesse, tinha vergonha, mas quando a fome apertava, não sabia o que fazer ou a quem recorrer, ele era o único que havia alguma vez na vida, ajudado a si.
Piscou algumas vezes e sentou-se, no cantinho daquele beco onde já tinha costume, observando insistentemente o prédio, mas ninguém parecia transitar por ali aquela hora. Ele não viria e morreria de fome. Fechou os olhos, abaixando a cabeça e por um momento, acabou adormecendo, sem forças para se manter mais acordado e sonhou com várias coisas, várias cenas desconexas e nada mais fazia sentido. A única coisa que fazia era o rosto dele a distância, a voz, rouca e bonita, acolhedora que ele tinha.
Os olhos se abriram, estava sentindo o frio do clima, o que não era muito normal, por isso havia se assustado e ao erguer-se notou uma luz que antes não estava ali. Era o quarto dele. Sorriu consigo mesmo e sem delongas, alcançou sua sacada de janela já aberta.
Kaname havia voltado do serviço, a noite fora difícil e não havia dormido direito, fora um plantão meio extensivo que havia feito, visto que nenhum outro médico se encontrava a disposição, somente ele. O bom é que ganharia um dinheiro extra, o ruim é que também teria uma dor de cabeça e nas costas extra. Havia tomado banho e estava pronto para dormir, a toalha enrolada ao redor da cintura e bocejava em sinal de cansaço, quando deu de frente com o garoto farejando suas coisas no quarto, despreocupadamente.
- Posso saber o que faz aqui?
O garoto deu um pulo.
- Eh? Ah... Oi...
- Estava esperando me encontrar na cama pra atacar de novo? Parece que não aprendeu.
- Iie, eu não atacaria você, sabia que talvez não estivesse na cama.
- Então o que você quer?
Shiori pareceu hesitar, desviando o olhar e abaixou a cabeça.
- Você pode... Me dar um pouco de sangue?
Kaname o fitou, e não acreditava no que ouvia.
- De novo? O que te faz pensar que eu daria?
- Eu estou com fome... Não consigo caçar, e bem... Você é a única pessoa que podia me ajudar.
- Eu não quero te ajudar.
O menor uniu as sobrancelhas e abaixou a cabeça.
- Mas eu vou morrer...
- E o que eu deveria fazer sobre isso? Eu não conheço, garoto! E você tentou me atacar na outra noite.
O menor o observou, ponderando por um tempo e desviou o olhar, pensando se realmente faria aquilo ou não.
- E se... E se eu... E se eu fizesse com você de novo, você me daria um pouco?
- Está me oferecendo sexo em troca de comida?
O pequeno abaixou a cabeça novamente, meio envergonhado e o maior negativou, seguindo em direção a cozinha ignorando o que ele havia dito. O pequeno se sentou na cama, observando a porta na esperança de que retornasse com uma resposta positiva, mas, não havia retornado. Ponderou que talvez ele não quisesse ver a si e nem fosse ajudar novamente, teria que se virar de algum jeito. Levantou-se, sentindo-se meio tonto e seguiu em direção à sacada, onde pularia de volta ao solo, porém estava tão fraco que não fora capaz de se manter em pé e o barulho seco de seus ossos batendo no chão fora audível por toda a casa, algum osso ao menos, havia quebrado e o grito rasgou a garganta, o corpo estremeceu de dor e deitou-se, abraçando as pernas machucadas.
O moreno de fato não pretendia retornar, porém ao ouvir o barulho alto vindo da varanda, fora quase obrigado e num pulo estava lá, observando o garoto ali naquela cena ridícula. Pegou-o no colo e estreitou os olhos a ele.
- Desculpe! Eu vou embora!
- Vai embora como, imbecil? Se você está todo machucado.
Kaname o colocou na cama e cobriu seu corpo, magro e fraco devido a falta de sangue.
- Fique aí.
O choro ainda não havia cessado, porém ele o havia deixado ali e seguido em direção a cozinha novamente, onde tratou de arrumar o sangue para o garoto. Pouco tempo depois retornou ao quarto a trazer o pequeno copo térmico com sangue e em seu pulso, tinha o curativo feito por ele mesmo. Shiori uniu as sobrancelhas e fez uma pequena reverência somente com a cabeça.

- Beba.
O menor abriu a tampa do copo e guiou aos lábios, golando várias vezes a bebida, sentindo o gosto dele, gostoso, atrativo enquanto o observava sentado em frente a si, com seu olhar curioso.
- Qual seu nome?
O pequeno fez uma pausa na bebida.
- Shiori. E o seu?
- Hum. Kaname.
- Kaname é um nome bonito. - O pequeno sorriu.
- Não precisa tentar me agradar.
- N-Não estou tentando.
Murmurou e já sentia os ossos voltando ao lugar de onde haviam saído.
- E quantos anos tem?
- Dezessete.
- E como com dezessete anos você foi parar na rua?
- É uma longa história...
- Hum, sei.
- Você tem quantos anos?
- Vinte e oito.
- Não parece tão velho...
- Ah, me chamou de velho?

- Iie.
- Não parece tão velho, foi o que acabou de dizer.
- É que 28 anos pra mim já é bastante idade... Eu sou pequeno ainda.
- Você não é pequeno, você já é quase um adulto.
- Entre aspas eu sou.
- De dezessete para dezoito não há muitas diferenças, até porque a puberdade começa dos quatorze.
- Hai... Pelo menos perdi minha virgindade com dezessete anos.
- De trás, tecnicamente ainda é virgem. Nunca transou com uma mulher ou foi ativo de um homem.
-  Mas quem disse que precisa transar como uma mulher pra deixar de ser virgem?
- Estou falando do seu pau, garoto.
- Sim, mas se eu transasse com um garoto também ia perder a virgindade.
- Foi o que mencionei no final, que não foi ativo com um homem.
- Ah, ativo... Quer me deixar ser ativo?
- Não tenho interesse.

- Por que? - Uniu as sobrancelhas.
- Não tenho interesse em dar.
- Ah, hai.
Shiori abriu o copo novamente a beber mais um gole do sangue.

- Você já pode caminhar a vontade, vá. Me deixe dormir, mal pude descansar essa noite. E não ache que vai ficar necessitado e vir me pedir sangue a toda hora.
O menor uniu as sobrancelhas e assentiu, levantando-se.
- Obrigado...
- Hum.

O menor assentiu, seguindo em direção a sacada e desviou o olhar ao quarto do outro uma última vez.
- Tchau Kaname...
Murmurou e não havia dito adeus como na última vez. Logo pulou do local.

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