Tsuzuku e Koichi #7


O sol entrava pela fresta da janela e atingia direto a face do garoto sobre a cama, até podia ouvir o estalar da pele conforme exposto aquela luz. Era Katsuragi, em pé ali, do lado da cortina a expor o sol contra o rosto dele, o que o fez levantar em um pulo.
- Eh?! Está querendo me matar?
- Não, só te acordar sem precisar passar pelos garotos. Boa tarde bela adormecida.
- Ah... Que horas são?
- Quatro da tarde.
- Ainda? Por que me acordou?
- Preciso de ajuda com algumas coisas.
O pequeno resmungou, porém saiu da cama, sem muito o que fazer e vestiu um roupão ao redor do corpo, somente o que cobrisse o suficiente para seguir ao banheiro onde vestiu-se, lavou o rosto e escovou os dentes, logo voltando para onde estava o velho vampiro.
- Oi, o que houve?
- Hum, preciso ajeitar algumas coisas pela boate e não posso fazer isso sozinho.
- Por que não pede ao Masashi que ajude você?
- Porque isso não é trabalho dele, garoto insolente, vamos.
Koichi seguiu com ele para o salão e vazio aquela hora, observou as cortinas que haviam sido tiradas e os quadros que teriam que ser colocados nos lugares novamente, assim como várias outras coisas, deixadas ali pelo dono.
- Mas... Vou levar horas pra fazer isso, como vou trabalhar?
- Pois é, hoje você não vai trabalhar, consider-se com sorte.
Koichi arqueou uma das sobrancelhas, meio confuso, mas por fim, assentiu, Katsuragi era estranho e preferia não contestá-lo. O suspiro evidente de desagrado soou dos lábios, sonolento e seguiu para o trabalho, iniciando pela cortina que teria que ser recolocada no palco.
Algumas horas depois, a boate já estava quase pronta para a abertura, os clientes entravam pela porta frontal, direcionados pelos garotos e atendentes, e o garoto, continuava ali a arrumar os cenários dentro do local, o trabalho dado parecia não ter fim e ria pensando em si mesmo como a Cinderela da boate, só fazia os serviços ruins deixados pelos outros. Naquela noite gostaria de dançar, se apresentar, mesmo que não trabalhasse, era um modo de se distrair e não pensar no outro, embora não conseguisse tirar ele da cabeça, aquele corpo bonito, o modo como falava consigo, como havia sido o primeiro homem a dar prazer a si. Suspirou. Era um sonho impossível.
Em pouco tempo, a boate estava cheia, os clientes se espalhavam pelos sofás, aconchegados contra os garotos serventes, animados com a noite e o trabalho que tinham, afinal, se achassem um rapaz rico seria mais dinheiro no fim do dia e o loiro estava ali, arrumado e pronto para trabalhar, porém, não estava com nenhum cliente específico, só observava o movimento, e os olhos inchados, parecia estar chorando em algum momento, se não a noite toda, já que suas olheiras também estavam evidentes.
Koichi ainda limpava o local, sozinho, parecia ter sido um castigo do outro pelo que andava fazendo ou falando e parecia que nunca ia terminar. Havia feito uma pausa para o lanche e bebia uma pequena garrafa de sangue ao canto da boate, observando o movimento, até que um aroma, aquele cheiro conhecido se fez presente e mais desejável que o sangue que bebia. Arregalou os olhos, e se estivesse novamente alucinando? Não, ele tinha que estar ali, aquele cheiro era bom demais para ser verdade, mas dessa vez não iria cometer erros, já que pulou para a porta a observar o movimento das pessoas a entrar e sair do local, nada dele ali.
- Shin, Shin você viu o Tsuzuku por aqui?
- Tsuzuku? Ele não vem faz um tempo.
- É eu sei, mas sinto o cheiro dele.
- Koichi, você é novo, cheiros enganam, esquece esse cara, vai.
- Não consigo, quero vê-lo. Onde está o Taka?
- Não sei, estava por aí. Ele não dormiu a noite toda estava até me agoniando já.
- O Taka? Ele está bem?
- Não sei, procure por ele e pergunte.
- Hai, mas primeiro eu tenho que encontrar o Tsuzu, se o vir, diga que estou procurando, ok?
- Ta bem. Cuidado que o Katsuragi não quer você aqui hoje.
- Hai, eu sei...
Num pulo, Koichi estava entre as mesas, procurando, aspirando o ar, tentando encontrar o outro, e nada. Já estava exaustivo aquele joguinho, como se ele estivesse fazendo propositalmente para irritar a si e por fim, observou o local, encostado a uma parede e fora obrigado a se esconder, já que o dono passara próximo a si e sabia que ele sentia o cheiro. Correu para dentro, escondendo-se no quarto e negativou consigo mesmo, que idiotice, não deixar que aparecesse no salão, alguém tinha que estar tramando alguma coisa, e iria descobrir.
Após um pequeno tempo, o cheiro ainda estava presente e fora exatamente ele que havia seguido em direção ao salão, observou todo o local, esquivando-se do dono uma ou duas vezes, quando o encontrou e por fim, o viu ali, sentado numa mesa, os cabelos negros e curtos, podia vê-lo de costas, e não pôde descrever a felicidade que teve com aquelas longos passos em direção a sua mesa.
O cheiro crescia conforme se aproximava, então, era ele mesmo, e estava sozinho, estava esperando a si? Não sabia, mas ia descobrir. Uma das mãos, finalmente o tocou no ombro e num movimento gentil virou-se a observá-lo com um sorriso nos lábios. Porém, o sorriso aos poucos se desfez ao perceber que não era o outro e sim, um vampiro que nunca havia visto antes. Uniu as sobrancelhas, negativando para si mesmo a observá-lo e sentiu sua mão sobre a própria coxa, deslizando para cima.
- Boa noite, garoto. Me traga um copo de Whisky.
- E-Eu não sou atendente, desculpe...
- Como não? Fique comigo um pouco, você é bem bonito.
- Iie...
- Fique, você é pago pra isso, e vou lhe pagar bem!
- Não!
O garoto puxou a mão, tentando soltá-la e acabou com um impulso para trás, esbarrando em outro dos clientes que passava, só então virou-se para se desculpar e dali teve a visão da entrada dos quartos alugados pelos clientes, e lá estava ele, agora tinha certeza, seu rosto era bem evidente. Sorriu, talvez ele não conseguisse ver a si, mas o via e correu em direção a ele. Os passos cessaram, devagar, antes de encontrá-lo e viu ali o garoto loiro, junto a ele e a mão do maior passava ao redor de sua cintura num abraço sutil, mas convidativo, o levava para o quarto. Os olhos se arregalaram e depois, se fecharam, voltando a abrir em seguida. Não acreditava no que via, mas estava certo. O amigo, e único amigo agora estava com o outro, como se não soubesse o quanto gostava dele e parecia esfregar aquilo na própria cara, já que fazia questão de desviar o olhar a si e antes de entrar no quarto, expôs o dedo do meio. 

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