Tsuzuku e Koichi #8


Koichi havia passado o dia todo na cama, não havia frase de Katsuragi ou qualquer um que o retirasse. Um dos garotos havia até tentado puxá-lo, mas tudo que conseguiram fora quebrar uma das unhas dele já que havia se apoiado firmemente no futon. A maior parte do dia chorava. Chorava por si, pelo outro, e pelo amigo idiota. Tinha um sonho impossível, sair dali com um príncipe encantando que nunca viria buscá-lo, já estava bem na cara, que Tsuzuku não queria saber dele.
No dia seguinte, só havia levantado por obrigação. Os rapazes gritaram tanto no quarto que o fizeram se levantar. Havia colocado uma roupa qualquer sobre o corpo e saído, tomaria um ar, fumaria um cigarro e quem sabe onde iria? Estava pensando seriamente em pegar as próprias coisas e sumir dali antes que qualquer um percebesse. Se afastou dos rapazes que por ali passavam, passando a mão pelo próprio corpo em sutis tapas nas coxas ou nádegas, não tinha ânimo para discutir, e sabia que parecia uma mulher. Acendeu o cigarro, dando um longo suspiro ao liberar a fumaça.
- O que você está fazendo aqui sozinho?
A voz havia vindo de trás, e distraído, se quer havia percebido algum cheiro pelo ar ou presença. Na verdade, era somente um corpo, vazio, oco. Um morto-vivo. Virou-se na direção do rapaz que havia falado consigo, e os cabelos negros e compridos se fizeram óbvios em quem era. Desviou o olhar logo em seguida e voltou a tragar o cigarro.
- O que foi, Koichi? Não tenho mais cinco anos para ficar com esse joguinho de criança, me diga qual é o seu problema.
- Qual é o meu problema? Você é o meu problema.
- E por que eu seria o seu problema?
Tsuzuku havia esboçado um sorriso sutil, realmente não fazia ideia do que aquela criança dizia e do bolso tirou o próprio cigarro igualmente, levando um dos cilindros aos lábios e o tragou, observando o garoto.
- Por que dormiu com o Takano?
O moreno arqueou uma das sobrancelhas.
- Ora, aquilo não é um prostíbulo?
- Não é um prostíbulo! É uma boate!
- Ah sim, e vocês não dormem com os clientes?
- Eu não sou um prostituto!
- Sim, você é.
- Cale a boca!
O garoto gritou e o cigarro foi ao chão, vazando por seus dedos, não sem antes deixar uma bela marca em seu indicador, que queimou pela pele sensível ao fogo. Antes que o menos gemesse ou gritasse novamente, mas dessa vez de dor, Tsuzuku o segurou pelo pescoço e o levou a uma parede próxima, pressionando-o ali a colar o corpo ao dele.
- Você acha que pode falar assim comigo, garoto? Está ficando louco. Eu podia matá-lo aqui e agora.
- Então mate! Estaria me fazendo um favor.
- Sabe por que eu comi aquele outro pirralho? Porque ele veio se oferecendo pra mim e não tenho nenhuma obrigação para com você.
- Acha que eu não sei?! Ande, mate logo!
Tsuzuku observou o garoto, fixamente, a mão sobre o pescoço dele e fora uma troca de olhares bem longa. Koichi esperava demonstrar ali todo o ódio que tinha de tudo, toda aquela situação e esperava que ele entendesse que tinha um coração ainda no peito, afinal, era humano, não conseguia agir tão friamente como um vampiro costumava fazer, não costumava ter amantes de uma noite, queria alguém para a vida toda, mas infelizmente estava no lugar errado, pelos motivos errados. O vampiro maior desviou o olhar, e fora a primeira vez que havia hesitado em simplesmente matar alguém. A mão deslizou pelo pescoço do menor devagar e o soltou, observando seu dedo avermelhado, mais um pouco a pele teria derretido e deixado uma cicatriz permanente ali. Estando bem alimentado, guiou um dos dedos aos lábios e mordeu o indicador, guiando-o sobre o machucado do garoto e deixou que algumas gotas de sangue pingassem ali, amenizando ao menos a dor do pequeno.
O menor permaneceu a observá-lo, mesmo ao sentir o aroma do sangue, seus olhos nem mudaram de cor ou foco, só enxergava o outro, e mais nada, ele havia hesitado? O que fora aquilo? Uma das mãos, o pequeno guiou à nuca dele e puxou-o para si, tomando os lábios do maior num beijo a lhe penetrar a boca com a língua, e fora retribuído. O maior pressionava o corpo ao dele, mantendo-os próximos, sentindo-o e as lágrimas escorreram pela face do pequeno, sentindo-se completo por ele, mesmo que por somente alguns instantes.
Os lábios se descolaram dos dele, afastando-se aos poucos e o viu se virar, seguindo pelas sombras do beco. O coração que morto, pulsou forte no peito e não entendeu o porque. Estaria morrendo? Mas não sabia, que aquilo na verdade, era amor.

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