Kaname e Shiori #3


Shiori voltou para casa em passos calmos, observando o local a volta e segurava firme em uma das mãos o recipiente com o pouco do sangue que restou. Adentrou a própria casa, escura, acendendo a luz do local e guardou o saquinho com o sangue na geladeira, onde costumava guardar as garrafas com o líquido, quando as tinha. Sorriu consigo, mudo e caminhou logo em direção ao banheiro para que tomasse banho, afinal, havia passado um bom tempo lá fora. Retirou as roupas, deixando-as no chão do banheiro, depois arrumaria como sempre e logo adentrou o box, colocando-se abaixo da água, deixando-a molhar os cabelos e o corpo tão pequeno que nem parecia ter a idade que tinha, sentindo o sutil arrepio que percorreu a pele com a água tão quente.
Os dias se seguiram calmos, não saía de casa, apenas mantinha-se na janela ou vendo televisão, e vez ou outra lembrava-se do outro, e era tão bonito, mas não podia voltar a vê-lo, sabia que ele expulsaria a si. Os minutos de paciência e bem estar foram se esgotando junto dos últimos goles do liquido rubro no pequeno recipiente, e 
ao provar a ultima gota notou o estado em que se encontrava novamente, precisava sair e caçar, e rápido para que não chegasse ao estado de voltar a se rebaixar a alguém.
Pegou o casaco sobre o móvel ao lado da cama e vestiu, saindo de casa a trancar a porta e seguiu as ruas escuras como sempre, escondendo-se a observar as pessoas naquele horário tão calmo. Não pensou, apenas puxou para si uma mulher que passava próximo do local e lhe tampou a boca, observando o olhar apavorado da mesma e aproximou-se a expor as presas tão longas e compridas, tão próximo de seu pescoço e fechou os olhos, sentindo as lágrimas que deixavam os mesmos com os gritos da outra abafados pela própria mão, era evidente que ela estava assustada, e também estava.
Tocou-lhe o pescoço com os dentes, hesitante a roçar as presas pela pele, quase como uma carícia sutil e logo a soltou, sem coragem para mordê-la e apenas assistiu sentado a garota que correu e gritou por socorro, estaria morto em alguns minutos se ninguém aparecesse. Levantou-se, mesmo em meio ao choro e saiu do local, correndo para longe, onde talvez estivesse seguro, ao fundo do pequeno beco, sentando-se no chão e encolheu-se, onde pôde chorar sem que ninguém ouvisse a si.
O menor e
ncostou a cabeça na parede ao lado de si, mantendo-se em silêncio e apertava o casaco entre os dedos com ambas as mãos, gemendo sutil pela dor de estômago e a dor pelo corpo, e ali passou muito tempo, talvez esperando alguém parar, alguém ajudar a si, ou algum vampiro, o que era quase impossível, sabia que vampiros não eram como a si, que tinham desprezo por humanos, jamais ajudariam alguém tão fraco, e se ajudassem, não iam querer coisas boas e sabia disso melhor do que ninguém. Fechou os olhos, sem mais forças para apertar o casaco depois das longas horas que passou ali e acabou por perder as forças, desmaiando. 
A luz do dia já iluminava a cidade quando encontraram o garoto, uma moça com cabelos loiros e compridos que se aproximou para saber de quem era o corpo deitado daquela maneira e apavorada digitou o número do hospital mais próximo. Pela própria sorte, o sol não alcançava o local, o beco era escuro igualmente a luz do dia, e certamente foi o que salvou a própria vida naquele momento. A ambulância chegou em poucos minutos, teria ouvido o barulho da sirene, talvez de longe a ouvia, mas não tinha forças nem para abrir os olhos. Uniu as sobrancelhas, sutil, do modo como pode, a face tão branca e o corpo tão frio talvez foi despercebido pelos dois rapazes que colocaram a si sobre a maca, levando o corpo a caminho do hospital na ambulância. Ao chegar no local, guiaram a si para a sala mais próxima de cirurgia, porém, o que podiam fazer se a enfermeira não sabia nem mesmo o que o pequeno tinha. Examinaram o corpo e estranharam o modo como já não havia mais pulso, nem um batimento cardíaco se quer e a moça saiu em direção ao corredor, seguindo a recepção.
- Onde está o doutor?
- Ele saiu. Tinha um compromisso importante.
- O que?! Como ele sai assim? Acha que o garoto que está morrendo vai esperar ele voltar?!
- O Kaname está aí.
- Mas ele é clinico geral, não mexe com essa área... Tá bem... É a única opção que temos, mande ele vir a sala de cirurgia, com urgência.
- Certo, vou passar a mensagem no som.
- Vá a sala de enfermaria, entregue o papel a qualquer uma das enfermeiras.
O maior se levantou na sala, após ter recebido um desnecessário aperto de mão do homem, que abertamente havia o dado de bom grado. Teria retornado ao assento atrás da mesa na sala médica, se o anúncio a busca da presença requisitada na recepção não tivesse interrompido. Traçou o rumo pelo corredor silencioso e quase vazio até o indicado, prontamente avisado sobre a situação emergente e pela mesma direção de onde vindo, regrediu ao fundo do corredor, adentrando a sala com precisão dos passos levados até ali, enquanto revestia com luvas brancas em látex as mãos higienizadas, informado novamente por uma médica auxiliar. O tênue franzir de cenho estalou pela testa, não que fosse tão notório. Um pesaroso suspiro deu ao caminho da mesa da sala de emergência e encarou o corpo conhecido, afinal era mesmo um miserável, como se já não o tivesse avisado, lá estava em uma situação tão ridícula como a de semanas atrás. Abaixou-se com o aparelho, cujo com uma suave luz iluminou suas vistas, encarando a tonalidade, que não surpreendeu 
a si. A mão em seu peito, fora num disfarce qualquer, sabia que ali não sentiria nada além de falsos movimentos com sua respiração, tal como no pulso. A maquina induzia cargas elétricas medidas em seu peito, e sequer preparou a si mesmo para que o atendesse, o que muito fora indagado pelos demais na sala.
- Não há problema. Ele está bem, é anemia. Estranhamente com falta de sangue, precisa de soro e um transfusão. Seu tipo sanguíneo aceita qualquer outro.

A respiração do pequeno já nem era mais tão rápida, quase parava, e não podia fazer muita coisa, afinal, estava inconsciente, nem reconhecia as vozes que soavam tão longe na própria mente, tão confusas. A enfermeira levou a si do local para um quarto, atendendo prontamente o pedido do médico a furar a veia com a agulha afiada e preparar a si para ficar um bom tempo no local.
- Kaname Sensei... Não temos qualquer identidade dele ou coisa do tipo.... Nem sabemos quem ele é, como vamos avisar a familia desse garotinho?
O moreno se encaminhou à sala juntamente a fêmea, no preparativo das bolsas de sangue e soro, deixando o resto do serviço para a mulher.
-  Teremos que deixá-lo recobrar consciência, e então termos informações dele mesmo. Se não há quaisquer documentações será impossível tomar alguma providência, a menos que chamemos a polícia, mas até que haja alguma informação já está acordado.

A garota assentiu apenas.
- Deixei a ficha dele sobre o móvel para o senhor preencher.
E sorriu a ele, logo a seguir em direção a saída, fechando a porta da sala. Kaname o
bservou a bolsa de sangue pendurada, e ajustou-a, permitindo que a corrente sanguínea fluísse mais depressa e se encaminhou à poltrona em couro negro onde acomodou-se sentado e se pôs a preencher a ficha médica apenas no que era necessário e possível fazê-lo.

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