Nowaki e Tadashi #10


- Nowaki...

O médico ergueu a direção visual ao ouvi-lo, tirando a atenção da folha onde atualizava algumas fichas de pacientes, especificamente a sua nesse momento. Suspirou, e ainda assim não entendia. Era uma garoto com problemas psicológicos, do contrário, não estaria tão fixado em si de modo que mesmo sequer o conhecia e nem ele a si. Queria ajudá-lo, costumava gostar de fazê-lo, mas aos poucos passava a não querer mais ficar por lá. Sentia dó, mas ele não se importava em ser bom para si também, afinal, fazia tudo o que não queria que ele fizesse.
O menor se encolheu na cama, dolorido, já passado o efeito da droga, e agora a dor era no peito, e não mais no estômago, tanto que o gemido veio junto, e ainda dormia. Nowaki se levantou, ouvindo o grunhido e seguiu até seu leito. Verificou seu ritmo cardíaco, o nível de medicação nas veias, o soro e foi nele mesmo que aplicou a medicação para dor, tentando relaxar seus músculos, evitando eventuais dores. Tadashi suspirou em seguida e virou-se outra vez, relaxando a medida que a dor foi diminuindo.
- Nowaki...

- Diga logo, Tadashi.
Disse o maior, mesmo embora continuasse adormecido. Não estava muito paciente. 

- Faz amor comigo...
O menor murmurou e suspirou, obviamente ainda em sonho.

- Pff. - Nowaki murmurou e seguiu de volta ao assento onde continuou o trabalho. - Engraçadinho.
Tadashi abriu um dos olhos e riu baixinho, sentando-se na cama e desviou o olhar a ele.
- Por um momento eu achei que fosse funcionar.

- Como tudo o que faz.
- ... Não fique tão chateado comigo.
- Não estou chateado.
- Bravo?

- Não, só não quero mais saber dessas merdas. Vou te tratar como qualquer paciente e se continuar a me dar problemas vou transferir você.
- ... Iie!
- Não adianta dizer não, se você fizer algo errado de novo, já sabe.
- Nowaki, por favor, não quero perder sua atenção, sabe que eu só fiz isso pelo que ela disse de mim.
- Tadashi, não comece, porque quanto mais desculpas você me dá, mais mal humorado eu fico.
- Não posso me desculpar então faço o que?
- Não faça nada, pare de se explicar.
- ... Vai ficar assim comigo então?
- Não estou de jeito nenhum, estou como deveria estar.
- Nowaki.

- Tadashi.
O menor se levantou, ou tentou, preso pela agulha que tinha nas veias e puxou-a de qualquer jeito, deixando-a sobre a cama a caminhar em direção a ele, e nem se importava se escorreria algum sangue pelo braço.
- Nowaki, você cuidou de mim, e isso me faz gostar de você, eu sou gay, não vou mudar de ideia, não quero que as pessoas digam que eu não posso ficar com você, porque é isso que eu quero, alguém que cuida de mim, e ninguém mais faz isso. Você é tão bonito, cuidadoso e carinhoso. Não me odeie.
Ao vê-lo se levantar, Nowaki se levantou do mesmo modo, e afastou-se suavemente com sua proximidade, o que antes teria se imposto a fim de colocá-lo de volta na cama. O ouviu, mas estava aborrecido e por algum motivo, suas declarações deixavam a si ainda mais mal humorado. Parecia se impor, parecia querer se forçar para si. Normalmente era cuidadoso e gentil com ele, justamente por saber que estava frágil e... Bem, apaixonado, mas há dias desde sua chegada, estava estressado e era por isso que já se irritava facilmente. Pegou-o pelos ombros e levou-o forçadamente para a cama.
- E daí, Tadashi? Eu sei que você é gay e não me importa, não mandei você mudar. Mandei você parar de ser um drogado, e parar de chutar minha mulher, e parar de se explicar, mas tudo o que eu digo pra fazer você não faz. E o que eu digo pra não fazer, você faz. E eu já estou cansado, nunca tive um paciente tão chato. Qual seu problema?

O menor uniu as sobrancelhas ao senti-lo empurrar a si e encolheu-se na cama em frente a ele, só então sentiu os respingos pelo braço, que mancharam os lençóis e o chão e novamente sentiu as lágrimas nos olhos, não entendia porque ele estava com tanta raiva de si, havia chutado a mulher, mas com motivos meio específicos, na verdade, fora sem intenção de machucá-la, mas como dizer isso a ele se ele não queria ouvir? Desviou o olhar e assentiu.
- Você é infantil, irresponsável, faz as coisas sem pensar nas consequências, quem você acha que quer viver com você assim? Acha que vai arrumar um namorado que cuide de você? Você o esgotaria no primeiro mês de namoro, Tadashi. Porque você faz tudo errado, não sei se faz pra ter atenção de alguém, mas as pessoas precisam viver sua vida também. Posso cuidar de você, mas preciso ter tempo pra cuidar de mim também, você entende isso? E alguém que for ficar com você vai ter que cuidar de você o tempo todo. Vai ter que viver pra você, porque você age como um adolescente, uma criança.
Disse e pegou seu braço, firme, porém sem machucá-lo, usou algodão embebido com álcool e limpou o antes antes de trocar a agulha e substitui-la, colocando outra vez em seu braço. 

O outro o ouviu em silêncio e não desviou o olhar de sua face em nenhum momento, porém as lágrimas já haviam escorrido dos olhos a partir do momento que ele havia dito que ninguém conseguiria ficar consigo. Gemeu ao sentir a agulha perfurar o braço novamente e manteve-se em silêncio, esperando que ele soltasse a si para se deitar novamente.- E não adianta chorar, Tadashi. Você teve todas as oportunidades de me mostrar algo diferente.
- Não consigo largar, Nowaki, não consigo. Não consigo me imaginar num mundo sem você também. Então eu prefiro morrer.
- Não consegue largar? Está aqui há dias e sem drogas.
- Mas a vontade sempre volta quando eu me frustro.
- E vai continuar se frustrando porque não quer melhorar.
- ... Certo.
- E você não pode negar que foi um filho da puta no mesmo dia que fui bom com você.
- Devia ter dado um rosa pra ela.
- Não, devia ter feito a consulta e pronto.
- Certo, vou fazer, você não vai mais ouvir falar de mim.

- O que, vai se comportar ou quer se matar? Porque isso eu já sei que está fazendo.
- Vou ficar na minha. Posso ir?
- Não, acabei de colocar a agulha, está em medicação.
- ... Certo.
- Se reclamar vou furar o outro braço.
- Eu não reclamei.
- Certo. Fique quietinho por aí.
Disse o médico, por fim voltando a atenção a ficha que olhava antes, e até parou pra pensar um pouco sobre o rapaz. Não evitou suspirar. Tadashi se d
eitou novamente e virou-se de costas.

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