Nowaki e Tadashi #9


Tadashi levantou-se rapidamente ao ouvir o barulho da porta, e havia dormido por um longo tempo, efeito do calmante. Saiu da sala e encontrou o corredor vazio, meio confuso, somente observou o médico ali, sozinho e segurou-o pelo pulso.
- Nowaki!

Nowaki ouviu o ruído seguir logo atrás de si e fez menção de se voltar ao causador, porém sentiu o toque no pulso seguido por sua voz, essa mesma que causava vontade de estapear seu dono. E moveu vigorosamente o braço, desvencilhando.
- O que faz aqui? Volte ao seu quarto!

O garoto uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo e encolheu-se.
- Ora, mas eu só quero conversar com você... Não estava no quarto comigo e...?

- E o que? - Indagou, ríspido, como não tinha costume de fazê-lo. - E você chutou minha mulher, ah? Volte para o seu quarto se não quiser ser sedado outra vez.
- Ela foi hipócrita comigo, ora. Nowaki, pare de ser assim.
- Pare de ser assim? Qual... Qual seu problema? Você nem medicado estava, nem drogado estava e mesmo são, teve coragem de chutar uma mulher. Ela não foi hipócrita, ela estava fazendo o trabalho dela, ela é gentil com os pacientes, todas as consultas são gravadas, não adianta tentar me enrolar. Volte para a porra do seu quarto. - Disse, até mesmo um pouco mais do que deveria. 
Tadashi uniu as sobrancelhas novamente.
- ... Você ouviu?

Nowaki levou a mão sobre a ponte nasal e massageou próximo as sobrancelhas.
- Não interessa, Tadashi. Você é uma criança, volte para seu quarto. Fui bom com você e você foi um sacana.

- Eu não fui um sacana! Ela mereceu!
- Mereceu o caralho, Tadashi. Você está merecendo uma porrada agora.
- Você ouviu a fita, como pode defender ela e não eu?
- Anda, me diz o que ela disse pra você? - Disse e cruzou os braços em frente ao peito.
- Disse que você não gostava de mim
- E disse isso a respeito de que, pessoa ou com interesse romântico?
- Interesse.
- E ela mentiu? Não tenho interesse romântico em você, Tadashi. Você sabe disso muito bem, ela não precisa nem dizer isso a você.

- Mas... Nowaki, nós podemos ficar juntos um dia, nunca se sabe.
- Você é absurdo. É um absurdo você bater na minha mulher porque você pensa em alguma possibilidade futura. Escute, não tenho interesse, e mesmo que um dia tivesse, perdeu toda sua possibilidade a partir do momento que machucou a Megumi.
Tadashi uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo e manteve-se a observá-lo em silêncio por alguns instantes, seguindo para o próprio quarto em seguida, sem mais nada a dizer. Nowaki o fitou, e tão logo notou seguir ao quarto. Quando por fim voltou o caminho que traçava, amaldiçoava-o, tanto pela agressão, como o simples fato de sentir uma pontada de pena dele ao ser fitado.
- Tsc.
O menor adentrou o quarto e chutou a cadeira que havia no canto, obviamente havia machucado o pé, mas não se importou. Estreitou os olhos, irritado e queria gritar, queria bater em algo, mas o que veio primeiro foram as lágrimas que escorreram pela face. Sentou-se na cama de cabeça baixa e limpou as lágrimas com o dorso de uma das mãos, processando a raiva que sentia dele e levantou-se logo em seguida, não tinha cigarros, não tinha drogas, mas a sala dos enfermeiros naquele horário ficava desprotegida. Seguiu para fora, procurando alguém pelo corredor e atravessou todos os quartos daquela ala, invadindo a sala que nem precisou de muito, já que a porta aberta e averiguou se havia alguém ali, como não havia, visto que os enfermeiros em intervalo, procurou nas gavetas pelas seringas e visualmente percorreu o armário de remédios até finalmente achar a morfina, seria suficiente. Tentou abrir o armário com algumas chacoalhadas e como trancado, se irritou e usou o cotovelo para quebrar o pequeno vidro, esperando que ninguém ouvisse o barulho e seguindo para o quarto novamente, com cuidado para que não fosse pego, preparou o remédio para aplicar em si e sem se importava até mesmo com a agulha, injetou-o na veia e deitou-se logo em seguida, deixando o vidrinho ao lado, e nem considerou uma dose alta ou baixa, apenas aplicou o que queria em si e ignorou demais fatores. E pelos cortes no braço, não era a primeira vez que agia de modo tão inconsequente.Nowaki estava sentado, atualizando as fichas dos pacientes quando foi avisado do ruído vindo da enfermaria, por um dos seguranças, que trouxe consigo um pedaço do vidro rompido, indicando o problema. Levantou-se tão logo, seguindo até a sala, observando os medicamentos, fazendo contagem para verificar o que faltava. Levou algum tempo, mas notou o faltante. Após constar, levantou-se e seguiu pelos corredores na ala de pacientes e de sala em sala, passou verificando com ajuda da enfermeira os quartos, procurando o que faltava. E não foi difícil encontrar, logo notou o rapaz ali, e no fundo já imaginava o causador daquilo. Por sua aparência já imaginava e vasculhou a lixeira onde no meio de copos descartáveis ou mesmo papel, encontrou o vidro e mesmo a seringa em sua cama.
- Não tenho mais paciência, Tadashi. Não consigo nem ficar indignado mais.

Obviamente, Tadashi não entendia corretamente o que ele dizia, era difícil compreender em meio a brisa que teve com o medicamento, conseguia ouvir, mas não processar, e certamente, nem o que dizia.
- Nowaki... - Murmurou, estremecendo.

- Não me indigno, só me decepciono, você é meu pior paciente. Vou transferi-lo para outra unidade.
O menor uniu as sobrancelhas, meio dolorido e encolheu-se na cama, porém ocorrera o mesmo em que a última vez em que havia usado, talvez usara uma dose muito grande de morfina e agora tinha convulsões. Era estranho estar em estado tão deplorável novamente, havia prometido a si mesmo que não o fazia de novo, mas desde que saíra das ruas e viera para o local, a cada vez que ele entrava no próprio quarto com palavras gentis, se sentia mais e mais especial, o que havia levado a si a acreditar que poderia ter ao menos alguma chance com ele, e de coração partido, era como estar totalmente partido ao meio novamente, sem um caminho para ir, casa para voltar, e preferia morrer, já que o mundo via a si como um pedaço de lixo. Na cama confortável que havia sido colocado, moveu-se de um lado para o outro num sonho meio conturbado e novamente se via, claramente contra a vontade dele, em sua sala onde novamente ocorria a desintoxicação, porém já era outro dia e certamente a raiva dele já havia passado, tinha que ter passado, ao menos um pouco, mas não fazia ideia de que havia passado tanto tempo nesse apagão que teve. Encolheu-se, e dos olhos fechados deixou escorrer uma lágrima em meio ao pesadelo, tentando acordar, mas não podia e ainda adormecido, murmurou.
- Nowaki... Não quero ficar sem você... Desculpe...

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