Reika e Takatsuki #8


Takatsuki ajeitou em frente ao espelho a própria camisa, fechando os últimos botões, já estava pronto, os cabelos curtos já haviam sido penteados e bem arrumados, estava feliz, iria chamá-lo para dançar consigo, ou ao menos tentar e ao sair do quarto, deixou um suspiro escapar e cruzou os dedos, desejando sorte para si mesmo. Logo seguiu em direção ao andar de baixo, descendo as escadas e viu a decoração bonita do salão de festas, era realmente grande o que haviam planejado e parou na entrada, não precisando esperar muito até ver a outra sentada junto da garota com que saía algumas vezes.
- Rei!

Reika aproveitou para dar uma aparada nos cabelos, deixando-os um pouco mais curtos que o costumeiro. Ajeitou a franja pesada fronte a testa e de fios suavemente sobre os olhos, nada que fosse um impasse. Usava a calça preta e de alfaiataria, de modo habitual, com a barra dobrada até as canelas. Nos pés um oxford vermelho e envernizado na mesma cor da gravata. Os únicos detalhes coloridos, já que a camisa e o casaco, tal como a calça eram pretos. Deu até uma apertadinha na borboleta no pescoço. E voltou o olhar ao ser chamada, observando o amigo, que já havia visto com as roupas antes, porém com os detalhes finais o resultado era ainda melhor.
- Hum, fala gracinha, vem sempre aqui?

Ele riu a aproximar-se dela e beijou-a no rosto, deslizando a mão pelos cabelos dela a ajeitar os fios no lugar.
- Cortou o cabelo? Ficou bem bonito...

- É, gostou? - Ela disse e tocou uma mecha do próprio cabelo, como se o analisasse. - Estava calor. Cadê seu príncipe?
- Ah, ainda não chegou. - Ele sorriu, meio de canto. - Logo ele está aí. A Mei está bonita.
Reika se virou, notando a companhia de baile alguns poucos passos atrás. Vestia um vestido rosa, combinava com sua pele.
- Está, não está? Embora aquele preto em você tenha ficado sexy igual. - Provocou. 

- Ah vá. - Riu e negativou ao lembrar do vestido. - Será que posso te roubar um pouco pra gente dançar?
A outra a observou conforme o pedido do amigo e gesticulou a ela que assentiu com um sorriso, embora tenha ficado meio receosa com o amigo depois da brincadeira sobre estar namorando um cara, mas não deixaria que isso afetasse a convivência com qualquer um dos dois. Seguiu logo com ele até a pista com os demais alunos e levou uma das mãos a sua, colocando-a sobre o próprio ombro a medida que logo o segurou pela cintura, invertendo como deveria ser e deu-lhe uma piscadela.
Ele seguiu junto dela ao local, com um pequeno sorriso nos lábios e assentiu às suas mudanças, uma mão em seu ombro e a outra segurou sua mão, sorrindo a ela.
- Você está linda.
Falou, baixinho e realmente achava, tanto que a voz soou doce, e não agressiva como de costume, deslizou pelo salão com ela, na música lenta e também tinha os movimentos lentos, deixando-a conduzir a si.

- Você também está, moranguinho.
A outra disse-lhe com o mesmo timbre sincero. Conduzindo o amigo, numa pequena brincadeira com ele, como se invertessem os papeis, o que já era comum até mais intimamente. Continuou, até que a música terminasse já dando início seguido para outra.

- Cadê o Jun, cara?
- Ele vai chegar.
Takatsuki sorriu e desviou o olhar pelo salão, procurando o garoto, que não viu e agradeceu por isso, já que estaria com outra garota, tentou se concentrar nela, e abriu um pequeno sorriso, queria poder beijar aqueles lábios, mas ali não podia. Beijou-a no rosto, sutilmente apenas e repousou a face sobre seu ombro, suspirando enquanto continuava a música.

Reika sentiu-o se aconchegar ao ombro, embora tivesse que se curvar um pouco para isso. Ambas as mãos juntou em sua cintura, e até o acariciou nas costas, até por fim se afastar com o fim da música.
- Vai dormir aí, Takatsuki-kun...
Disse a companhia de baile e sorriu ao amigo, que consequentemente desencostou ao ouvir o comentário. Ele se afastou da outra, quase abruptamente e abriu um sorrisinho tímido, meio decepcionado por ter que se afastar e viu a outra, estender a mão para a própria companhia, que certamente perderia agora.

- ... Tudo bem.
Reika arqueou a sobrancelha, notando sua reação pouco atípica, certamente teria respondido a garota e causado algum atrito, mas não o havia feito. Sorriu ao moreno e acariciou seus cabelos, queria bagunçá-lo, mas não podia. E ao separar-se do melhor amigo, tomou a garota para a dança, enquanto o moreno seguia a busca de seu companheiro, ou era o que pensava. Até chegou a vê-lo olhar em direção enquanto dançava com a garota e abrir os olhos durante um beijo, dando a ele uma piscadela. 
Takatsuki suspirou e assentiu a ela, deslizando a mão pela sua até senti-la soltar a si e viu-a seguir junto da outra, tinha uma sensação estranha ao observar aquilo, doía de certo modo, e apenas manteve-se parado ali por um tempo, até sorrir a ela, de canto, quando se virou e seguiu para a mesa por alguns instantes, sentando-se. Observou o local ao redor, sentindo-se desolado e finalmente viu o garoto ali, e estava perto da mesa de bebidas, sozinho, por sorte. Levantou-se e seguiu rapidamente até ele, evitando que sumisse de uma hora para outra. Parou lado a ele e sorriu, meio de canto.
- Oi Jun. 

- Oi... Takuya não é?
- Ta...katsuki, bem, não importa... Sabe, eu... Queria saber se você quer dançar comigo. 
- Dançar com você? Ele riu. - Mas... Eu estou acompanhado.
- ... Ah, eu pensei que... Bem, eu te olho nas aulas de quimica, você também, então...
- Hey, eu não sou viado!
- ... Eu não disse que era, é que eu achei...
- Sai fora!
O menor uniu as sobrancelhas.
- Calma, eu só...
O moreno o observou e sentiu o empurrão que levou com suas duas mãos contra o próprio peito, tomando impulso para trás e quase caiu no chão, por sorte, bateu contra a parede. Assentiu e abaixou a cabeça, seguindo para fora antes que arrumasse confusão e certamente iria acabar apanhando, não queria que ela visse aquilo, já que pensava que estava com ele.
Do lado de fora, na sacada do local, apoiou ambas as mãos no parapeito de madeira e abaixou a cabeça, deixando que as lágrimas escorressem pela face. Estava frustrado, o garoto que esperava gostar de si, havia acabado de quase bater em si e a garota que achava gostar, era a melhor amiga, não poderia ficar com ela, iria morrer sozinho, ao menos queria poder tê-la ao lado de si agora, para consolar com alguma brincadeira. Mas não fora ela que havia entrado e sim um garoto do terceiro ano.

- Takatsuki?
- Eh...?
Takatsuki falou e limpou o rosto rapidamente, virando-se logo em seguida a observar a porta.

- Oi, está tudo bem?
- Quem é você...?
- Kenji. Sou do terceiro ano, vi você chorando e quis saber se podia ajudar. O que houve?
- Nada... Estou bem. Só...
- Você está sozinho, não está? Não devia ir a um baile sozinho.
O menor uniu as sobrancelhas e assentiu, sabia disso.
- Bem, que tal você vir comigo, hum? Posso te levar pra tomar um sorvete ou quem sabe jantar? Longe daqui.
Takatsuki o observou por um pequeno tempo, seu sorriso branquinho era confortável, não tinha medo dele, e sabia o próprio nome, o que mostrava que já tinha algum interesse de alguns dias. Assentiu e segurou a mão que ele havia estendido, seguindo para fora junto dele e sorriu de canto, talvez com ele esquecesse um pouco os problemas que tinha.
Havia tomado um sorvete com o outro, como prometido, as lágrimas secaram devido a risada que vez ou outra dava junto dele, mas ainda assim, era estranho, não queria estar ali de alguma forma, queria estar com outra pessoa, sentia falta, principalmente quando decidiu subir com ele para o quarto, era o quarto de um amigo, segundo ele, era mais perto.
Ele fora gentil consigo, e era a primeira vez que um homem era gentil, seus toques, beijos, mostravam delicadeza, mostravam cuidado, mesmo assim, algo não parecia certo. Não houve um momento em que não pensasse nela, em seus movimentos ao invés dos dele, e manteve-se quase calado durante todo o ato, pensativo mesmo que sentisse prazer, diferente dos outros garotos com quem havia ficado.
Reika deu uma pausa para o drink, para um salgado ou um docinho. Achou até uma sobremesa que mais parecia um órgão genital feminino, e queria zoar o próprio amigo e forçá-lo a comer aquilo. Procurou-o visualmente e não encontrou. Até deu um tempo para a acompanhante se sentar, o que deu vazão a seguir pelo salão e caçá-lo, achou seu amigo, que constou não vê-lo tão cedo. Encontrou até mesmo seu pseudo-acompanhante, já que parecia acompanhado por uma garota. Estranhou e por fim chegou até ele.
- Hey Jun, cadê o Takatsuki?
Indagou, já o conhecia parcialmente, e imaginava que estava acompanhando o outro, como era informada. O garoto c
essou o que fazia ao ouvir a voz da outra e virou-se frente a ela, observando-a.
- Quem?

- O Takatsuki, ué.
- ... Ah, o garoto que veio falar comigo. Não sei ué, deve estar por aí, quero nem saber daquela bicha louca.
Ela fitou o moreno. Costumava falar com ele exporadicamente, mas não imaginava que fosse tão estúpido. Mas foi capaz de deduzir que o amigo mentia, e ficou puta. Nunca havia descoberto alguma mentira dele, até porque não precisava, era o que pensava, mas ele não.
- Bicha louca por que, caralho?

- Ah, o moleque veio dando em cima de mim, porra, é óbvio que eu não gosto de homem, ainda mais viadinho assim.
- Uh, não seja idiota. Eu fiz uma aposta com o Takatsuki e disse pra ele chegar em você, senão ia ter que por um vestido. Ele é meu namorado, ele não é um viadinho, ele só não liga pro esteriótipo ou se as pessoas acham que eu pareço um moleque, daí enchem o saco. Não fala assim, você soa como um otário filho da puta.
Ela disse ao moreno e por fim acabou saindo antes de arrumar confusão, claro, avisou a lourinha e até a levou para descansar no quarto, com a promessa que levaria doces para que comessem juntas no fim da noite. E seguiu pelo salão procurando o amigo, que trataria de lhe dar um belo esporro. 

Takatsuki uniu as sobrancelhas, meio incomodado e observou o garoto sobre si.
- Você é virgem?
- Não...
Murmurou, sincero e suspirou novamente, estava nervoso, o corpo dele não era quente como o da amiga, e estava chateado ainda, apesar do sorriso. Deslizou ambas as mãos ao redor de seu pescoço e o gemido alto deixou os lábios ao senti-lo se empurrar para si, junto de algumas lágrimas nos olhos, que obviamente ele percebeu e se afastou.

- Você está se sentindo bem? Parece meio desconfortável...
- ... Desculpe, estou meio chateado...
Murmurou, e estava mesmo, não queria estar com ele, apesar de ter sido onde fora parar, e achava que ele havia percebido.

- Desculpe, eu... Achei que estava gostando.
- ... Eu que peço desculpas. - Murmurou e viu-o se afastar de si.
- ... Eu sou pequeno demais?
- Eh?! Não... Não, que isso... É que... Eu... Ah meu Deus... Eu só estou chateado, me desculpe, eu vou sair...
O moreno falou e levantou-se, vestindo as roupas, meio constrangido pelo ato com o garoto, que parecia tão legal, mas não era com quem queria estar naquele momento e ajeitou os 
cabelos bagunçados, saindo do quarto a apoiar na parede e suspirou, logo caminhando em direção ao próprio quarto, onde preferia dormir.
A outra caminhou pelo corredor na área dos dormitório e tão logo achou o amigo, que saía do quarto aleatório ali no meio. E franziu o cenho, claro que ele via a si, embora estivesse pronto para disfarçar. E claro que também voou até ele, e deu-lhe uns bons socos. 
O menor se assustou ao vê-la e já havia sido machucado pelo outro com o empurrão, então gemeu dolorido, afastando-se e novamente quase caiu no chão.
- O que eu fiz?!

- Nasceu, otário! Por que está mentindo pra mim? Não quero mais saber de você, você está muito esquisito e anda mentindo pra mim, seu palhaço.
- Eh? E quando foi que eu menti pra você?!
Ele falou, realmente sem se lembrar do que havia dito.

- O Jun ia com você no baile, ah? Disse que ele havia aceitado e estava todo melancólico, você é estúpido demais.
Takatsuki uniu as sobrancelhas ao ouvi-la e abaixou a cabeça, com vergonha do dito. Ela negativou consigo mesma e deu de ombros, dando as costas ao amigo. 
- Rei! - Ele falou a segurá-la pelo pulso. - Por favor... Eu não queria estragar sua noite, sabia que ia desistir de ir com a Mei se eu dissesse que não tinha acompanhante.
- E desde quando isso te importa, Takatsu? Você zoa a Mei, provoca ela. Pouco se fode se fico com você mesmo que esteja com ela. Eu posso bem estar com os dois no baile, eu dou conta no quarto e não daria numa porra de dancinha?
- Esse é o problema, Rei, eu já roubo você o suficiente, não poderia tirar dela o baile também. Se eu não posso ter um, não vou tirar de quem pode.
- Bom, se você se sente tão culpado então eu não fico mais com você. Agora não minta pra mim de novo, sou sua amiga, porra.
Ele assentiu, sentia as lágrimas nos olhos, queria falar a ela, mas não tinha coragem, tinha medo de que ela fosse embora.
- Desculpe...

- E para com isso que anda muito sentimental, está grávido?
- Iie... Vou pro meu quarto.
Reika tocou seu rosto, notando o brilho em seus olhos que indicava uma umidade maior que deveria.
- Não chore, ele é um babaca.

Ele desviou o olhar, assentindo ao ouvi-la e piscou algumas vezes, deixando escapar algumas lágrimas que escorreram, marcando o rosto.
- Eu sei.

- Eu disse pra ele que você só chamou ele porque tínhamos feito uma aposta. Daí ele saiu como otário. - Riu. 
- Ele é um. - Sorriu, em meio às lagrimas. - ... Amanhã conversamos, Rei.
- Quer que eu vá com você ou precisa ficar sozinho?
- ... Quero pensar um pouco. Esqueça o que aconteceu hoje, por favor.
- Que você ficou meio mentiroso de repente?
- Tive meus motivos...
- Não justifica nada pra mim, mas beleza. Então vá, e pode me chamar se precisava. - Disse e mostrou o celular a indicar.
Ele assentiu e uniu as sobrancelhas, estava triste, queria a companhia dela, mas sentia um aperto no peito difícil demais de explicar. Virou-se e seguiu pelo corredor até o andar de cima onde ficava o quarto.
O rapaz saiu do quarto, enxugando-se com a toalha e deu de cara com a garota ainda ali. 

- Hey, você é a amiga do Takatsu?
Reika observou o amigo partir seu caminho até o andar de seu dormitório. E quando se fez pronta a seguir para o próprio caminho, ouviu a voz do rapaz o qual se voltou a fim de observar.
- Espero que tenha feito algo bom com ele, ah? - Disse ao notar a falta da roupa superior. - Não foi um cavalo, foi?

- Eh? Não... Que isso. Ele estava chorando na festa eu o chamei pra tomar sorvete, acabamos vindo para o quarto e... Ele parecia incomodado, começamos a fazer as coisas, ele começou a chorar... Disse que gostava de outra pessoa.
- Pff, como pode gostar daquele... Ele gosta da pessoa que fez ele chorar, basicamente.
- Bom, aquele garoto é um idiota mesmo. Dançar com ele e deixar ele sozinho depois... Ele disse que queria ter chamado ele pro baile, mas não podia porque eram amigos, vai entender. As vezes ele não é gay. 
- Ele não dançou com o cara. O Jun nem sabia quem era o Takatsuki.
- Não? Ele disse que dançou, não acho que mentiria pra mim, eu nem conheço ele direito
- Talvez por vergonha.
- Pode ser. Hey, eu vi ele com você no baile, não estavam dançando?
- Dançamos um pouco e ele foi atrás do Jun.
- Hum... Talvez ele não estivesse falando do Jun então... - O rapaz sorriu a ela e virou-se, fechando a porta.
- Ah, por sou muito homem mesmo.
Disse ela, embora fosse quase só para si já que havia se afastado e fechado a porta.

Takatsuki se deitou na cama, cansado realmente e achava que estava ficando louco, realmente, parecia um louco, transava com um garoto e sentia falta de uma garota, não entendia mais nada, sempre achou que gostava dela, mas como uma amiga, não algo mais, e doía pensar que estava perdendo a razão ao pensar nisso, fechou os olhos, já havia chorado o suficiente, e decidiu dormir.
Pouco tempo depois, Reika se sentou à beira da cama, observando-o adormecido. Tinha os olhos um pouco inchados, como quem dormira mal antes do sono que tinha. Ajeitou seu edredom, dando espaço para se deitar junto dele e cobriu-se posteriormente, até afagou seus cabelos dispersos no travesseiro. Havia trocado o quarto com o amigo de quarto dele, como já era típico, mas desta vez porque pedira e imaginava que o moreno não gostaria de ser visto amoado como estava.
- Dorme moranguinho.
Disse a ele, num sussurro bem baixinho ao vê-lo ressonar com o movimento na cama.

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