Tsuzuku e Koichi #5


Koichi abriu os olhos devagar, já não conseguia mais dormir e certamente já era tarde, não se lembrava de ter uma noite, ou um dia tão prazeroso desse modo, poder dormir tranquilo, sem acordar com alguém gritando o próprio nome. Moveu-se pouco a sentir o braço sobre a cintura e uniu as sobrancelhas, iria se virar, mas lembrou-se que o outro estava atrás de si e sentiu a face se corar completamente, desviando o olhar a própria cintura a observar o braço do outro sobre a mesma, talvez distraído em meio ao sono. Uniu as sobrancelhas a sentir a respiração dele contra a nuca e fechou os olhos, relaxando por um pequeno tempo a sentir o corpo dele tão junto ao próprio e inclinou-se pouco para trás a roçar o corpo pouco mais ao dele.
- Hum... Tsuzu... - Murmurou.

Tsuzuku se moveu atrás da figura em frente, fosse o que fosse que estivesse ali em frente, afinal, dormia, num sono branco, sem conteúdo, além do estado de torpor do corpo. Com movimento que buscava o término do sono alerta, porém era ainda preguiçoso no descerrar brando das vistas, observando a figura à frente, em um monte de fios rosados mesclados aos negros mais compridos das pontas os quais só viu com nitidez minutos depois. O menor virou pouco a face a observá-lo atrás de si e notou os olhos abertos do outro, unindo as sobrancelhas e deu-lhe um pequeno sorriso.
- Você... Está me abraçando.

- E daí?
O maior resmungou de modo quase não audível, porém suficiente a sê-lo, rouco de recém acordar.

- Nada... Só...
O pequeno murmurou e logo permaneceu em silêncio a virar-se novamente de costas a ele. Tsuzuku o
 observou sem retrucar e virou-se, não por seu comentário, afinal, deu-se de ombros perante a ele e de peito para cima, descansou o antebraço fronte as vistas, retornando ao silêncio de um quase sono. O menor se manteve em silêncio ao senti-lo se mover.
- É que eu gostei do abraço.

- A função de bicho de estimação serve bem em você.
- Hum?
- Isso é o que vocês são, escravos de sangue, bichos de estimação.
- Não diga isso.
- E não são?
Koichi se virou a observá-lo.
- Sou um vampiro assim como você, não é porque sou inferior que tem que me chamar de bicho de estimação.

- Não estou chamando, isso é o que você é.
O menor estreitou os olhos e levantou-se a buscar as próprias roupas no chão. Tsuzuku se virou de lado na cama, onde o cotovelo no colchão deu apoio à face contra o punho, observando ao dançarino.
- Pode me levar pra boate? - Falou em tom alto a vestir as roupas.
- Não tenho intenção de me levantar por hora.
- ... Então como eu vou?
- Quer ir?
- Eu quero se continuar me chamando de animal de estimação.
- É o que você é, só está lá a espera de alguém que vá comprá-lo.
 O menor uniu as sobrancelhas.
- Não é?
- Não é bem assim... Estou esperando alguém gostar de mim.
- Sim, e a pessoa que gostar de você o comprará.
- Mas não vai me tratar como um animal.
- Uh?
- Ele não vai me tratar como animal.
- Quem sabe algum bondoso dono venha a se apaixonar por seu escravo.

Ele abaixou a cabeça a observar o chão e logo caminhou em direção a cama do outro, deitando-se novamente ao lado dele.
- Oh então quer dizer que não aceita essa posição?
- Não gosto de ser chamado de cachorro.
- Não disse que era um cachorro.
- Me chamou de animal, mesma coisa.
- Então animais são cachorros?
- Não foi isso que se referiu?
- Disse que é um bicho de estimação.
- Certo.
- Já estudou?
- Eu terminei o colégio.

- Então sabe a diferença.
- Hai... Precisa de mais algum serviço?
- Está com pressa?
- Quero trocar de assunto.
O maior deu de ombros e levantou-se, sentando-se à beira da cama, estendendo os braços, relaxando os músculos, e mesmo com os dedos ajeitou os negros fios de cabelo, alinhando as madeixas medianas à longas e quando se levantou por fim, seguiu ao banho enquanto já deslizava a peça de dormir pelos quadris as pernas, onde deixou-a pronta a ser tirada conforme entrou no cômodo ao banho. O menor desviou o olhar ao outro, observando-o a retirar a boxer e deixar pelo quarto e permaneceu imóvel a observar o corpo bonito dele.
- E-Eu... Posso ir junto?

Tsuzuku fez um breve maneio com a cabeça, e permitiu que o fosse. Entrou pelo banheiro deixando a peça de roupa retirada num canto e ligou a ducha que espalhou seus finos jatos de água, e por fim molhou novamente o cabelo. Koichi observou o outro a seguir ao banheiro e sentou-se sobre a cama, suspirando a retirar a própria roupa intima novamente e seguiu-o ao banheiro. O maior observou após sua entrada, e breve franziu as sobrancelhas indicativas a deixá-lo ter espaço a que se aproximasse. O menor se aproximou do outro a adentrar logo o box e lhe deu um pequeno sorriso.
- Você gosta de sorrir.
- Hai, as vezes dói, mas eu sinto como se ninguém ligasse. Então, tanto faz.
- Então porque sorri?
- Porque é o meu trabalho.
- Seu trabalho não é sorrir.
- É estar sempre bem.
- Não. Seu trabalho é dançar, transar quando há possibilidade de ser levado por alguém, mas não significa que precisa sorrir. Não há no mundo alguém que pague por um sorriso, a menos que esse alguém tenha um motivo.
- Hai.
- Então não precisa sorrir, não tem significado algum.
O menor assentiu e o outro buscou o sabonete que era líquido, passando-o pelo corpo a espumá-lo somente quando deslizou a esponja macia pelo corpo, se é que aquele material chegava a ser uma esponja com suas finas camadas e criou a branca espuma pelo corpo o qual higienizou, mesmo que houvesse apenas dormido. O menos o observou por um pequeno tempo, em silêncio enquanto se banhava e processava as coisas ditas por ele.
Após o banho, o maior usou a toalha próxima para secar o corpo e os cabelos, vestindo um roupão em seguida para procurar as roupas no quarto e desviando o olhar ao menor indicou as roupas dele no chão onde foram jogadas novamente.
- Vista-se e vamos tomar café.
O pequeno saiu, segurando a toalha em frente ao corpo e confuso o observou.
- Eh? Senhor eu... Acho que não posso ficar aqui tanto tempo...
- Eu estou pagando pelas suas horas, pode ficar quanto tempo eu quiser que você fique.
O menor arqueou uma das sobrancelhas e sem muito o que dizer assentiu, Katsuragi gostaria do dinheiro que receberia no fim do dia, então, somente se deixou levar e vestiu as roupas, seguindo com ele para a cama, onde se sentou.
- Vamos descer?
- Eles vem trazer aqui.
- Hai.
Alguns minutos foram suficientes depois de Tsuzuku fazer uma ligação e logo o rapaz estava ali com a bandeja, com tanta coisa, que Koichi arregalou os olhos, notando tantas opções de comida, e certamente tudo aquilo era para si, já que ele não parecia muito interessado nela, parecia querer mais a garrafa de sangue puro que havia vindo em conjunto.
- Coma o quanto quiser, depois eu vou levá-lo.
- Hai, obrigado. - Disse o pequeno, pegando um dos pães. - Por que você... Se interessou em mim a primeira vez?
- Não me interessei, pedi que enviassem alguém bom e me enviaram você.
- Mas podia ter me mandado embora e pedido outro menino.
Tsuzuku arqueou a sobrancelha enquanto se servia do sangue na taça e bebeu longos goles da bebida.
- Seu sangue, ainda tinha gosto de vida.
Koichi o observou, em silêncio e logo desviou o olhar à comida, de fato, esperava uma resposta diferente, mas dele não podia esperar nada como via nos filmes, sonhava alto demais, era uma vida que nunca teria, ao lado dele naquele lugar.
- Você é casado?
- Se fosse acha que traria você aqui?
- Bem, eu não sei... Alguns vampiros tem relacionamentos bem abertos.
- Solteiro.
O pequeno assentiu.
- Como foi parar naquele lugar, garoto?
Ele soltou o pão por um instante, desviando o olhar ao outro.
- Falta de sorte. Eu fugi de casa... É uma longa história.
- Que rebeldia.
Ele sorriu de canto.
- É, meio que isso mesmo, eu não tinha muitas opções em casa também, então... Pra mim está melhor como mascote de vampiros ricos.
- Hum, então aceitou seu posto.
Koichi estreitou os olhos.
- E você é rico assim porquê?
- Muita sorte.
- Hum.
- Sou vocalista de uma banda.
- Jura?
Koichi sorriu, feito uma garotinha adolescente e o maior arqueou uma das sobrancelhas.
- Nossa, eu... Toco guitarra. Quem sabe um dia... Digo... Que legal! Me deixa ouvir você.
- Quem sabe um dia.
Ele uniu as sobrancelhas.
- Não seja mau comigo...
- Estou sendo bonzinho o bastante por hoje.
O pequeno sorriu e desviou o olhar, deixando o restante do pão sobre a bandeja.
- Obrigado por me trazer aqui. Eu não comia assim faz tempo...
- Eu sei como Katsuragi é. Sei o que ele faz. Já terminou?
- Hai.
- Comeu só um pedaço de pão.
- É suficiente, ou não entro nas minhas roupas amanhã.
- Garotas...
Koichi riu e seguiu com ele para fora do quarto, o caminho até o carro fora curto e era aquele mesmo automóvel lindo que havia visto. Talvez fosse realmente uma garota vivendo um sonho adolescente, ficando com o vocalista de uma banda. Aliás, era prostituta de um vocalista de uma banda, é não parecia tão bonito visto desse ponto.
O caminho fora curto, não era muito longe, mas as curvas naquele carro faziam o garoto vibrar da cabeça aos pés e ao chegar, estava animado pelo passeio e triste por ter que ir. Saindo do carro, ele deu a volta e se abaixou em frente ao vidro dele, observando-o ali.
- Você vem me ver de novo?
Tsuzuku tirou do bolso um bolo de notas, deixando com o garoto, em sua mão.
- Isso vai pagar pela sua noite, o resto fica com você.
- ... Então não vem me ver mais?
- Sua companhia foi agradável.
- Não vem?
- Quem sabe?
O pequeno uniu as sobrancelhas e se inclinou para o carro, porém o outro já o havia ligado e num segundo estava longe.
- Tsuzuku...

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