Nowaki e Tadashi #7


Tadashi acordou cedo, de fato bem cedo mesmo e pulou da cama sem nem pestanejar, iria ao encontro dele e tinha de estar bem arrumado para isso, e fora o que fizera, arrumou os cabelos repicados, teria passado até maquiagem se pudesse, mas ali não tinha nada. Alinhou as roupas e correu para a entrada da ala, observando os seguranças que por ali passavam.
- Hey, que horas o Nowaki chega? 

- Só daqui há duas horas.
- Que horas são?
- Seis da manhã. Durma mais um pouco.
O garoto uniu as sobrancelhas e assentiu, seguindo em direção ao próprio quarto novamente e sentou-se na cama, convencido de que esperaria acordado, mas adormeceu.
Nowaki estacionou o veículo em frete a clínica e deu entrada exatamente por volta das oito. Na verdade, faltavam alguns minutos para completar o horário. Portava consigo um copo grande de café, o que precisava pela manhã. Trazia também uma caixa na sacola o que deixou sobre a mesa do consultório e observou o segurança à porta.
- Um dos pacientes procurou por você essa manhã. - Disse ele.
- Passava mal? - Indagou ao rapaz que negou.
- Parecia somente procurá-lo, mas estava bem. Um de cabelos claros e esquisito.
- Ah sim, obrigado, Kimoto.
Agradeceu ao rapaz que sorriu e se retirou logo após. Supôs que o convite de desjejum havia sido levado bem a sério. Encostou a porta da sala e seguiu para ala de pacientes, seguindo ao quarto do rapaz. E não precisou abrir a porta, já ligeiramente aberta, mal fechado e ouviu-a ruir suavemente, revelando-o na cama, sentado, mas parecia dormir.
- Está dormindo ou meditando?

Tadashi se levantou quase num pulo ao ouvir a voz do outro e ajeitou as roupas, deslizando as mãos rapidamente por elas a arrumá-las no lugar.
- Oi, oi... Estou acordado. 

Nowaki arqueou a sobrancelha, observando seus olhos evidentemente inchados de sono.
- Bom dia. Você pode dormir um pouco mais. 

- Iie, estou pronto, quero tomar café com você. 
- E você está com fome por acaso? 
- Um pouco... Mas sentindo mais falta do cigarro do que tudo.
- O café ou um bala de hortelã pode te ajudar. Eu volto em alguns minutos, espere.  

- Certo. - O menor sorriu e sentou-se na cama.
O maior sorriu a ele e deixou seu quarto. De volta ao consultório onde deu entrada, verificou alguns arquivos e bem, tinha um tempo até a medicação dos pacientes. Pegou a caixa, levando-a consigo e pediu a auxiliar um pouco de água quente, que levou igualmente antes de passar no quarto do garoto.
- Vamos, tenho horário com os pacientes daqui uma hora. 

- Hai! - O garoto se levantou e sorriu a ele. - Esse é o chá? 
- Não, essa é a água pra ele. - Disse, entregado a ele a garrafa. 
- Hai. Obrigado. 
- Trouxe algo na caixa. - Disse e piscou a ele. - Mas não é cigarro. 
- Ah... O que é? 
- Trouxe o café.
- Comida? - Sorriu. - Hum. 

- Sim. Trouxe da confeitaria onde costumo comprar para casa. 
- Ah... Não precisava se incomodar. 
- Ah, precisava, não quero torradas e certo que você também não. - Nowaki disse e sorriu-lhe canteiro, seguindo pelo campus, indicando no extenso exterior um lugar para se sentar. - Vamos pra lá. 
Tadashi assentiu e sorriu a ele, caminhando pelo local a aspirar o cheiro gostoso de chuva, e havia chovido a noite toda, mas naquele horário não havia mais sinal de água.
- Obrigado por ficar comigo. 

Nowaki fitou-o de soslaio e sorriu com sutileza. Ao se sentar onde achou propício, entregou-lhe o copo, onde prontamente adicionou o sachê de chá e a água fervente na garrafa térmica que ele antes portava. E colocou ao lado a caixa, que abriu e deixou a dispor os pequenos pães. O menor sorriu igualmente e aceitou o copo, aspirando o aroma gostoso do chá, assim como de um dos pães que pegou e experimentou numa pequena mordida. O outro pegou preferencialmente o pão italiano e deu início ao desjejum junto do rapaz, que parecia entretido com a atividade.  
Tadashi suspirou e desviou o olhar a ele.
- Obrigado pelo café. 

- O que achou do pão, hum? É bom, não é? 
- Gostoso. - Sorriu. - Sabe porque eu tenho medo das agulhas?  
- Tenho como saber o que há com seu organismo, mas não o que há em sua mente.  
Tadashi sorriu.
- Minha mãe sempre foi traficante. Quando eu era pequeno, ela costumava trazer homens em casa pra vender drogas e beber. Quando ela ficava bêbada e realmente fora de si, ela costumava me furar com as agulhas que tinha.
Falou a observar a vista do jardim ainda, bonita e mordeu mais um pedaço do pão. 

O médico continuou o café mesmo enquanto o ouvia falar, entendia sua lamentável situação, ainda que achasse sua escolha um pouco contraditória e duvidosa. Fitou-o de soslaio novamente, e era sempre muito fácil imaginar que gostaria de estar presente para ajudá-lo numa situação como tal, porém no mundo real, dificilmente as pessoas eram ajudadas.
- Bem, mas se isso fosse realmente doloroso, não teria ido atrás da droga que te causa a mesma sensação. 

- É, eu sei. Mas na verdade eu nunca apliquei nada em mim, quem fazia eram meus amigos. Minha vó disse que ela tentou me jogar fora quando eu nasci. - Sorriu meio de canto. - Que tipo de mãe faria uma merda dessa? - Ainda assim permitiu que isso acontecesse. E está aqui justamente porque continua querendo a mesma coisa. - Retrucou o médico e não conseguia evitar de fazê-lo ainda que o foco não fosse realmente o fato dele ser um dependente químico. - E que tipo de vó diz isso, uh? São pessoas sem estrutura psicológica, como você mesmo deve saber. Porém, nem isso o fez forte suficiente para pensar em não ser uma pessoa como elas são. Sei que é muito fácil falar, mas, por que isso não foi suficiente pra pensar em estudar e conseguir um emprego, e finalmente sair da casa da sua mãe, porém tendo uma vida melhor, ah? Podia ter sua própria casa, suas próprias coisas, sabendo que um dia, teria uma família feliz e diferente das pessoas que teve no seu passado. E não sorria como se quisesse chorar, apenas aja como quiser. 
- Eu não vou chorar. - Tadashi falou a ele. - É realmente fácil falar, eu fui a escola, porém eu não aguentei muito tempo. Em todo dia das mães eu precisava ficar ali e ver todos os meus amigos com as famílias deles, felizes. Queriam ser médicos, professores, advogados, e eu não queria ser nada, porque ninguém nunca me deu apoio em nada. Eu fui muito maltratado minha infância toda, mas não espero que entenda. 
- Bem, não pense em coisas tristes. O trouxe aqui para tomarmos café, e certamente perderá a fome se continuar a falar sobre isso. De todo modo, não posso salvar você ou qualquer um dos meus pacientes do passado que têem.  Mas posso dar uma nova direção, posso indicar o caminho, basta que queira seguir. Estou aqui justamente tentando te dar a oportunidade de ser diferente da sua mãe, que não teve alguém que a tentasse ajudar, do contrário, não seria como é. Quero que um dia dê a seu filho o que ela não deu a você. E espero poder assistir sua recuperação. Posso ser um amigo além de um médico, e se quiser ser melhor, basta me pedir ajuda. Não deixe suas cicatrizes dizerem o que ou quem você é. - Disse o maior e lhe afagou a cabeça, como se falasse com um menino, e  bem, pela diferença de idade, até poderia dizer que era um menino mesmo. - O chá vai ficar frio 
Tadashi assentiu ao ouvi-lo, desviando olhar a ele e experimentou o chá, que aqueceu o corpo frio pela manhã chuvosa.
- Obrigado, Nowaki... Não sei o que eu seria sem você. 

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