Yuuki e Kazuto #7


O pequeno se levantou da cama e sentiu o frio arrepiar a pele, a imagem no espelho do banheiro ainda era a mesma, as mesmas perfurações no pescoço, e ainda esperava que fosse um sonho, mas já começara a se conformar que aquele rosto existia mesmo na própria vida agora. Vestiu-se, fechou a jaqueta e ajeitou os cabelos, fechando a porta de casa mais uma vez sem ter a certeza se voltaria ou não, mas sabia que ele não se importaria com a própria presença. Caminhou até o estúdio do vampiro, os passos calmos e despreocupados, as mãos nos bolsos para esquentá-las, adentrou o local e sentou no sofá preto ao canto, esperando apenas que ele chegasse, mas não disse nada, apenas o encarava, queria vê-lo, nem que fosse de longe

Assim que havia aberto a porta, colocando-se para o interior do cômodo, Yuuki pôde avistar os integrantes da banda. Eve, o baterista, olhava para o canteiro do estúdio, e constou a suspeita, já que os olhos cobertos pelos óculos escuros, observaram o mesmo local, e o aroma exalado do corpo do pequeno louro era presente. Suspirou, sutil como sempre fora os atos, talvez passasse despercebido e estava cansado daquele garoto. Tornou a fechar a porta, sequer cumprimentou os parceiros de banda, somente caminhou até eles, e ignorava o conhecido à vontade no estofado em couro do lado direito da sala. A mochila que esteve sob um dos ombros, agora repousava no mesmo sofá que o garoto estava, havia a jogado, e até mesmo acertado o pequeno. O óculos escuro, destapou os olhos assim que retirados e colocados num canto qualquer. O vampiro, umedeceu a garganta com o vinho no cálice pré-preparado pelo baterista, e em seguida, somente deu inicio ao ensaio.
Kazuto observou o outro dos pés a cabeça e segurou a mochila, resmungando, mordeu o lábio inferior e riu com a provocação, observando o cálice de vinho bebido por ele, que certamente não devia ser puro.
- Está lindo hoje Yuuki.   

A voz rouca do vampiro, cantada suave com a música em despedida aos dois integrantes do grupo. Os olhos claros do louro, fitaram o outro no canto da sala, o típico desdém que fora logo encerrado ao cerrar as pálpebras escondendo as orbes mutantes. Após o término da música, voltou ao cálice de vinho, tomando nova dosagem e se sentou sob uma das caixas de som, descansando enquanto provia da bebida doce.
O sorriso enorme se fez nos lábios do pequeno ao ver o olhar direcionado a si, poderia ser odiado por ele, mas ao menos aquele olhar, já o fazia se sentir ótimo, a mão foi sobre os lábios, sentindo-os apenas, lembrando-se dos toques do maior, do beijo doce dele.
Os olhos do vampiro, tornaram a observar o garoto no estofado, a expressão certamente não era uma das melhoras, expulsava-o do local somente com a arrogância expressa no semblante. Tornou a deixar o cálice de onde havia o tirado, assim que sorveu completamente o líquido. Deixou que a língua delineasse os lábios, tirando o sabor da bebida, e certamente não era somente isso, era a provocação, provocaria aquela criança, e a deixaria tão irritada quanto esta fazia consigo. Kazuto viu a língua do outro com seus movimentos sugestivos e desviou o olhar, a mão foi sobre o baixo ventre, apertando-o sutilmente e fitando um local qualquer para que ele não provocasse.
Certamente, se o pequeno estivesse a observar o vampiro, o veria com o sorriso egocêntrico que possuía. Yuuki se levantou e retornou ao centro da sala, dando inicio ao ensaio assim que Eve deu os primeiros toques na bateria. Cerrou os olhos e retomou a música, esta já não tão calma quando a anterior, pelo contrário, esbanjava dos guturais e alguns gemidos em meio aquela música, enquanto a mão gesticulava, movimentos sem inocência, tão despudorados quando a voz fraca do louro ao gemer.
Uma das mãos, o menor deixava que as unhas arranhassem o sofá enquanto a outra apertava novamente o local, desejando ficar surdo para não ouvi-lo cantar daquele modo, entreabriu os lábios e murmurou o nome dele, a mão agora tapando os lábios, já que sabia que pela audição que ele tinha, ele certamente havia escutado. 
Após algumas poucas horas de ensaio, Yuuki fora o ultimo a sair, como sempre. Os outros, já haviam ido fazer a refeição, quanto a si, não era típico de acompanhá-los. Caminhou na direção do garoto no estofado, somente para pegar a mochila ao lado do conhecido, tornando a colocá-la sob um dos ombros e caminhar até o exterior do estúdio. Kazuto o fitou até o momento em que pegou a mochila e ajeitou-se no sofá
- Porque faz isso, hum? - Falou pouco mais alto antes que ele saísse do local

- O que ? - O vampiro se encostou próximo a saída.
- Me provoca...
Yuuki se desencostou do local, os olhos dourados fitaram o garoto antes de tapá-los com o óculos escuro, desprovendo-o de tal imagem.
- Não estou lhe provocando, criança. Vá para casa trocar as fraldas, tomar mamadeira e dormir, vai.

- Você é um idiota, Yuuki. Tenho vinte anos, não tenho cinco.
O riso rude do vampiro ecoou no cômodo, mas breve, ao ser cessado manteve o deboche expresso nos lábios singelos com o pequeno sorriso.
- É uma criança.

- E quantos você tem, hum? um milhão?
Novamente audível o curto riso, desta vez em som nasal devido os lábios cerrados.
- Devo ter por volta de dois séculos e meio. - Debochou mais uma vez.

- Hum, idoso. - Riu
- Pois é, criança. Agora não me enche o saco.
O maior saiu do local e fechou a porta, de modo brusco fazendo com que ao ser fechada, ecoasse o barulho violento pelo corredor, na qual caminhou até chegar ao elevador. Claro que Kazuto s
aiu em conjunto, caminhando atrás dele.
- Tocar na idade magoa, é?

- Ah, garoto, você parece um cachorro atrás de um dono. Já disse que não o quero, é pouco demais para mim.
O maior parou frente a porta de metal ainda fechada. O pequeno louro possuía a grande sorte, por manter pessoas sempre ao redor onde ambos estavam, era ousado demais, deveria tê-lo matado antes, e não teria esse pirralho, como assim taxou "empecilho".

- Ta bem, hum. Vou embora. - Kazuto se virou - Ah a propósito... Está realmente lindo hoje, como sempre.
O pequeno sorriu e os passos se guiaram até a escada, descendo por ali já que ele havia mandado não segui-lo. 
Ao descer com o elevador, o vampiro teve a infelicidade de conseguir cruzar com o rapaz em caminho a saída.
- Ah, você é um encosto mesmo, moleque.
Deixou o prédio espelhado, e percorreu o caminho até a própria moradia. Já era noite, e passaria pelo mesmo caminho sempre percorrido onde encontraria alguém que saciasse a sede. Kazuto f
itou o outro, desviando os olhos da face dele e abaixou a cabeça, as mãos nos bolsos e guiava-se para casa. Os pés pararam diante de uma pequena rua, e sentiu o arrepio percorrer o corpo, o mesmo beco em que esteve com o outro, o local parecia bem mais escuro visto assim. Riu e suspirou, voltando para casa e assim que adentrou o local deitou-se na cama como de costume.

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