Ryoga e Katsumi #6


Katsumi piscou algumas vezes, cansado, sentindo todo o corpo dolorido, como se tivesse tensionado todos os músculos e desviou o olhar pelo quarto, notando a escuridão do cômodo, já devia ser noite de novo, ou ainda, não sabia por quanto tempo havia dormido, lembrava-se vagamente da última noite com ele, mas não se lembrava do que ocorreu pouco antes de desmaiar. Sentou-se devagar, observando o cobertor sobre o corpo e deslizou a mão pela cabeça, onde doía.
- Hum...

Ryoga se voltou a fitá-lo conforme o ruído vindo da cama. Havia acordado só então, afinal. Descansou o cotovelo sobre o braço da poltrona e observou o moreno enquanto tragava do cigarro, sentado, alguns poucos metros longe de si. Já estava sem camisa, vestia uma calça improvisada e dele, por sorte provavelmente era mais larga pra ele, já que servia, ainda que não fosse do próprio tamanho.
- Boa noite, urso.

O menor desviou o olhar ao canto, de onde vinha o som e arregalou os olhos, suspirando em seguida, ao notar que era ele, devia ter sentido o cheiro, mas não sentiu, estava exausto.
- O que faz aqui...?

- O que eu faço? Nada, dormia. Já que alguém desmaiou. Não tem graça te comer enquanto dorme.
Ryoga disse e então se levantou, caminhando à beira da cama, e sentou-se ao lado do moreno, levando o filtro do cigarro entre seus lábios. Deixando-o tragar. Katsumi a
ceitou o cigarro e tragou-o a soltar a fumaça logo após.
- Eu desmaiei...?

- Bem, você se lembra de ter ido dormir? - O maior indagou e levantou-se, pegando do móvel um copo cheio do que ainda faltava nele. - Tome isso, idiota.
O menor negativou e aceitou o copo, bebendo alguns goles do sangue contido nele e parecia que não se alimentava há anos, porque secou o copo com poucos goles.
- Precisa de mais?
- Hai.
Ryoga o encarou de soslaio e levantou-se pouco depois, buscando mais do sangue, o qual voltou a preencher o copo, e que não era pequeno. O outro pegou o copo outra vez e golou a bebida algumas vezes, suficientes para acabar novamente com a bebida.
- É suficiente?
Katsumi tossiu ao terminar a bebida, por engolir muito rápido, até sentiu ânsia, e teve que se sentar para que passasse, assentindo em seguida.
- Não dê uma de adolescente apaixonado e esqueça de beber. Se não quer transar com eles, não transe mas beba do sangue.
O moreno estreitou os olhos ao ouvi-lo citar a si como "adolescente apaixonado" e só então notou que não se lembrava de ter dito a ele sobre aquilo, certamente deveria ser efeito do desmaio e da confusão mental. Sentiu vergonha por ter dito, orgulho ferido talvez e ainda mais por ele julgar daquele modo, não sabia caçar, não queria mais ver outras pessoas nem trazê-las para a própria casa, mas não diria a ele. Deitou-se novamente e virou-se de costas.
- Você já pode ir embora.

- Bem, eu vou.
Ryoga disse e se levantar de sua cama, e tragou o cigarro que apagou no cinzeiro de vidro ao lado. Já despia de sua roupa justa, voltando a vestir as próprias. O menor se m
anteve em silêncio e cobriu-se com o cobertor até a altura do ombro, era estranho, mas sentia frio, como se estivesse com febre. Era péssimo ainda ter uma parte humana, mesmo que sutil.
- Meu filho já vai acordar. Você quer vir?
Katsumi continuou em silêncio e cobriu a cabeça.
- Não quer?
- ...
O menor sentiu as lágrimas que se formaram nos olhos, mas não era tristeza, era raiva, não sabia se era dele, ou de si mesmo por não conseguir dizer nada, estava com vergonha por ter contado a ele sobre o motivo e permaneceu em silêncio, com medo de que ele estranhasse a voz.

- Se não me responder vou por o anel no seu pau.
- Me espere lá fora.
- Claro.
Ryoga disse e seguiu, após despido, até a porta, abriu-a e logo voltou a fechar. O outro se l
evantou, porém sentiu a vertigem e voltou a se sentar, balançando suavemente a cabeça por um instante e levantou-se a apoiar-se na parede, escolhendo as roupas que vestiria, já que estranhamente tinha cheiro de banho.
- Olha só, não consegue nem se levantar direito.
Disse o maior, encostado a sua porta, havia aberto e fechado, no entanto não realmente saído. 

- Ryoga!
Katsumi arqueou a sobrancelha.
- Já vi tudo o que tinha de ver. Até você chorando, embora de prazer.
Disse o maior e caminhou até ele, ajudando-o a vestir habilmente as roupas já pré selecionadas. 

- Obrigado.
Disse o menor a se afastar da parede e tentar ficar de pé.

- Acorde. - Disse Ryoga e mordiscou o lábio, deixando que o cheiro do próprio sangue o provocasse. - isso te desperta?
Katsumi arregalou os olhos, observando-o e negativou algumas vezes.
- Mentiroso. - Sorriu. - Vamos logo.
- Você me deu banho?

- De língua.
- Sério?
- Claro, lambi tudo.
O menor estreitou os olhos.
- Vamos, não enrole. Quer que eu o leve nas costas?
- Não, eu posso andar.
Ryoga sorriu e canto e desta vez realmente deixou o quarto, seguindo até a saída e abriu deliberadamente a porta, esperando-o. O outro saiu junto dele do local e trancou a porta atrás de si.
- Quanto tempo eu dormi?

- O suficiente pra eu voltar pra casa, ver o garoto, voltar, pegar sangue pra você, te fazer engasgar tomando enquanto dorme.
- Hum... Por que cuidou de mim?
- Senso comum, ia te deixar morrer?
- Você é um vampiro.
- Você também.
- Sou transformado, você é de raça pura, mais um motivo pra me deixar morrer.
- Quer que eu diga que fiz por que gosto de você?
- Se essa é a verdade sim.
- Não. - Disse o maior  e encarou-o com um sorriso torto. - Você está tentando me fazer dizer isso, do contrário teria escutado todos os motivos anteriores. Mas sim, gosto de você, então eu quis fazer isso.
O menor assentiu e sorriu, sem mostrar os dentes.
- Papai... Me deixou sozinho.
Disse o garoto enquanto esfregava um dos olhos e caminhava arrastando a barra da calça, que era um pouco comprida pra si. Usava uma camisetinha de botão, também grande. E ergueu os braços, pedindo colo, embora houvesse pedido pra pessoa errada.
- Ele não aguenta nem a si mesmo, Rin.

Katsumi desviou o olhar ao pequenininho e abaixou-se a beijá-lo no rosto, de fato realmente não aguentava nem o próprio peso, mas tentou ergue-lo.
- Ah, é a amiga do papai...
- Amigo. Eu sou homem.
Observou o pequeno abrir seus pequenos olhos, e piscar várias vezes até enxergar nitidamente.
- É... é menino.

- Seu pai tem alguma amiga?
Ryoga observou o pequeno balançar a cabeça e desviar o olhar a si. 
- Hum. Espero.
- Espera, ah? Por que?
- Porque sim
- Ciúme?
- Hum. - Katsumi desviou o olhar ao garotinho. - O que quer comer?
- Biscoito...
- Biscoito? E isso é comida?
- Mas eu não preciso de comida...
- Você não é um vampiro... É?
- Ele é. Eu já disse a você, Katsumi.
- Mas disse que ele era algo mais...
- Sim, mas não deixa de ser um vampiro. Ele é mestiço.
- Sabe o que ele é além de vampiro? Seus olhos são azuis... - Disse ao garotinho.
- Bem, quem sabe. Não é humano, um humano não afetaria a genética mórbida de um vampiro.
- É, isso eu sei... Não tem nada estranho nele? Talvez seja um lobo... Ou algo assim... Já vi um na montanha uma vez.
- Uma hora eu vou saber. Mas pro papai é um anjo, não é?
Ryoga disse ao pequenino e tomou-o no colo, erguendo-o e fronte a seu rostinho assustado e ainda risonho expôs os dentes, rosnou e viu-o retribuir o rosnado feito um filhote de gato. O menor s
orriu a ambos, eram lindos juntos, uma família perfeita mesmo que fossem só os dois. Ele parecia tão sério, mas com o menino, era divertido e carinhoso, um bom pai. Nunca imaginaria. Ao se dar conta do sorriso, desviou o olhar, sentindo a face se corar aos poucos.
- Ahn... Vou buscar os biscoitos dele.

- Você sabe onde está, hum?
- Não, eu me viro.
- Eu pego. Você quer comer ou quer ser comido?
- O que?
Ryoga deu-lhe uma piscadela.
- Sente fome?

- Ah... Sinto.

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